BRASÍLIA, 31 de maio de 2012 - “A Amazônia não é almoxarifado e não precisa de esmola. Precisa ser remunerada pelo que se tira de lá, e também que projetos como o Plano Amazônia Sustentável (PAS), que envolve 21 ministérios, saiam do papel. Dinheiro há. O Fundo Amazônia, criado em 2009 para financiar projetos sustentáveis na região e administrado pelo BNDES (Banco nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) conta com US$ 1 bilhão, e o BNDES só gastou US$ 89 milhões. O que está acontecendo?” – afirmou o deputado federal Zenaldo Coutinho (PSDB/PA), presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Amazônia e do seu Povo, que realizou, dia 30, no Auditório Antônio Carlos Magalhães, do Interlegis, o seminário Povo e Floresta: Amazônia Sustentável – Rumo à Rio+20.
Na Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio+20, que a Organização das Nações Unidas (ONU) realizará no Rio de Janeiro, de 13 a 22 de junho, Zenaldo Coutinho apresentará o Grito da Amazônia, um documento gerado no seminário, enfocando a importância da Amazônia (maior floresta tropical e bacia hidrográfica do mundo) para o planeta, seu problema crucial (a destruição da floresta) e a solução (Programa Municípios Verdes e Sistema Agroflorestal). Também deixará claro para o governo brasileiro que sem o dinheiro do Fundo Amazônia e sem investimentos em projetos estratégicos para a região, “o que significa dizer investir no amazônida”, não haverá desenvolvimento sustentável, e o Trópico Úmido continuará sendo apenas o almoxarifado de onde o governo federal retira energia elétrica e commodities para exportação, como ferro, vendido sem valor agregado e praticamente sem royalties.
“Vejo a necessidade de o governo dar mais atenção à Amazônia” – disse o deputado federal Francisco Praciano (PT/AM), vice-presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Amazônia e do seu Povo e presidente da Frente de Combate à Corrupção, e que também participará do Grito da Amazônia na Rio+20. “Falta visão estratégica para a Amazônia. As hidrelétricas são estratégicas, mas não há projetos específicos para a Amazônia, como, por exemplo, pesquisa em biotecnologia.”
Francisco Praciano informou que 42% dos amazônidas estão em estado de pobreza e 16% em estado de extrema pobreza (IBGE/2009). “A Amazônia é uma região de cidadãos de terceira categoria. Pobreza não se coaduna com sustentabilidade; com fome ninguém pensa em Rio+20. Estamos destruindo o que os outros cobiçam.” E fez uma advertência: “A Amazônia tem muito a oferecer à Humanidade, por isso é necessário pensar o amazônida como cidadão de primeira categoria”.
O presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICM-Bio), Roberto Vizentin, que representou no seminário a ministra do Meio Ambiente, Isabela Teixeira, disse que o Plano Amazônia Sustentável gerou o dignóstico de que o modelo de ocupação da Amazônia Legal foi negativo do ponto de vista da sustentabilidade, até porque “há muitas Amazônias”, disse, referindo-se à complexidade continental da Hileia. Entre as soluções, Vizentin destacou o ordenamento da ocupação fundiária; infraestrutura e logística de transportes; e fomento de atividades sustentáveis. “Precisamos de ciência e tecnologia na Amazônia” – disse, observando que a região é um “almoxarifado”, utilizado como área extrativista. “A melhor estratégia de conservação da Amazônia é o uso sustentável dela.”
PROGRAMA MUNICÍPIOS VERDES E SISTEMA AGROFLORESTAL – O prefeito de Paragominas (PA), Adnan Demachki, apresentou um dos mais exitosos projetos em curso na Amazônia, o Programa Municípios Verdes, que teve início em 23 de março de 2011 e hoje está presente em 94 municípios paraenses e em alguns municípios de outros estados da Amazônia. A alma do programa foi o pacto social que governo paraense firmou com o governo federal, administrações municipais, Ministério Público, empresários, produtores e outras instituições representativas de setores produtivos, para promover o desenvolvimento econômico paraense ao mesmo tempo em que busca atingir a meta de desmatamento zero.
O Programa Municípios Verdes firma-se em um tripé: adotar o Sistema Agroflorestal, agregar tecnologia à agropecuária e plantar árvores nativas, numa escala de 10 milhões por ano, recuperando áreas degradadas. “O grande segredo do projeto não foi marco regulatório, mas o pacto social” – disse Adnan Demachki.
Quanto ao Sistema Agroflorestal, é modelo para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. “É agricultura em andares, agricultura com silvicultura, que desenvolvemos há 38 anos” – explicou o diretor da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (PA), Ivan Hitosh Saiki. Por exemplo: planta-se numa mesma área mogno, açaizeiro, bananeira e cacaueiro. Além dos diversos vegetais conviverem harmonicamente entre si e com a floresta, geram safra o ano inteiro, de diferentes produtos. Para Zenaldo Coutinho, o Sistema Agroflorestal “é uma fábrica de florestas econômicas, repovoando áreas degradadas e gerando sustento o ano inteiro”.
MESA – Compuseram a mesa do seminário Povo e Floresta: Amazônia Sustentável – Rumo à Rio+20, presidida pelo deputado Zenaldo Coutinho, os palestrantes:
Deputado Francisco Praciano, vice-presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Amazônia e do seu Povo
Senador Flexa Ribeiro (PSDB/PA)
Presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICM-Bio), Roberto Vizentin – Plano Amazônia Sustentável e o PAC/Rio+20
Presidente da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), César Bechara Nader Mattar Jr. – O Ministério Público e a Rio+20
Prefeito de Paragominas, Adnan Demachki – Programa Municípios Verdes
Presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Nelson Henrique Calandra – A Contribuição das Câmaras Especializadas em Direito Ambiental
Desembargador Aristóteles Turim, do estado do Amazonas
Hidrólogo Henrique Chaves, da Universidade de Brasília (UnB) – Caminhos para a sustentabilidade na Amazônia
Economista e amazonólogo Juarez Baldoino da Costa – Biomas Brasileiros em Números
Gilberto Martins, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) – Repressão Criminal – Biopirataria na Amazônia
Coordenador geral da Rede Nossa São Paulo, Oded Grajew – Programa Cidades Sustentáveis
Diretor da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta), Ivan Hitoshi Saiki – O Sistema Agroflorestal
Subsecretário de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE) – A Amazônia no Brasil 2022, 200 anos de Independência
Estiveram presentes ao seminário, além de representantes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, pesquisadores, estudantes e jornalistas que cobrem a chamada “questão amazônica”.