quarta-feira, 20 de junho de 2012

Amazônia grita na Rio+20

Parlamentares apresentam na conferência das nações unidas documento com as demandas da região


THIAGO VILARINS
Enviado especial das Organizações
Romulo Maiorana à Rio+20


BELÉM, 20 de junho de 2012 - Autoridades da Organização das Nações Unidas (ONU) e participantes da Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio+20, receberam nos últimos dois dias o documento Grito da Amazônia, um documento com as demandas da região, gerado no Congresso Nacional no fim do mês de maio, no seminário Povo e Floresta: Amazônia Sustentável - Rumo à Rio+20. O documento, todo em papel reciclável, foi entregue pelos deputados Zenaldo Coutinho (PSDB-PA) e Francisco Praciano (PT-AM), presidente e vice-presidente, respectivamente, da Frente Parlamentar em Defesa da Amazônia e do seu Povo.

O documento enfoca a importância da Amazônia (maior floresta tropical e bacia hidrográfica do mundo) para o planeta, seu problema crucial (a destruição da floresta) e a solução (Programa Municípios Verdes e Sistema Agroflorestal). E também deixa claro para o governo brasileiro que sem o dinheiro do Fundo Amazônia e sem investimentos em projetos estratégicos para a região, "o que significa dizer investir no amazônida", não haverá desenvolvimento sustentável, e o Trópico Úmido continuará sendo apenas o almoxarifado de onde o governo federal retira energia elétrica e commodities para exportação, como ferro, vendido sem valor agregado e praticamente sem royalties.

"A Amazônia não é almoxarifado e não precisa de esmola. Precisa ser remunerada pelo que se tira de lá, e também que projetos como o Plano Amazônia Sustentável (PAS), que envolve 21 ministérios, saiam do papel. Dinheiro há. O Fundo Amazônia, criado em 2009 para financiar projetos sustentáveis na região e administrado pelo BNDES (Banco nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) conta com US$ 1 bilhão, e o BNDES só gastou US$ 89 milhões. O que está acontecendo?", questionou o deputado Zenaldo, ao explicar o teor do Grito da Amazônia.

Para o deputado Praciano, que também é presidente da Frente de Combate à Corrupção, o Grito da Amazônia revela a necessidade de o governo dar mais atenção à Amazônia. "Falta visão estratégica para a Amazônia. As hidrelétricas são estratégicas, mas não há projetos específicos para a Amazônia, como, por exemplo, pesquisa em biotecnologia", explicou. Segundo ele, 42% dos amazônidas estão em estado de pobreza e 16% em estado de extrema pobreza. "A Amazônia é uma região de cidadãos de terceira categoria. Pobreza não se coaduna com sustentabilidade; com fome ninguém pensa em Rio+20. Estamos destruindo o que os outros cobiçam."

São oito as propostas principais da frente parlamentar apresentadas no documento: materialização do discurso em defesa da Amazônia no Orçamento Geral da União; aplicação imediata do Fundo Amazônia; dar início com urgência à execução do Plano Amazônia Sustentável (PAS); investir maciçamente, e de forma nunca descontinuada, em ciência e tecnologia, na busca de alternativas econômicas, especialmente em biotecnologia; universalização do Programa Municípios Verdes; estímulo, financiamento e definição de programas voltados à expansão do Sistema Agroflorestal; definição institucional de critérios para a remuneração de serviços ambientais e para que o mercado de carbono se torne realidade; e desmatamento zero como premissa essencial para a vida.

MUNICÍPIOS VERDES FIRMA TRÊS PARCERIAS - O Programa Municípios Verdes firmou ontem mais três novos acordos no Fórum Amazônia Sustentável realizado na Rio+20. As novas parcerias, anunciadas no Teatro Maria Clara Machado (Planetário da Gávea), são do Programa Rede Cidades Sustentáveis, o Banco da Amazônia e a Bolsa Verde do Rio de Janeiro. De acordo com o secretário extraordinário do Programa Municípios Verdes, Justiniano Netto, as novas parcerias baseiam-se na importância de permear novos caminhos para o desenvolvimento sustentável no Estado.

"A parceria é um dos pilares do programa, pois, esse tem um protagonismo coletivo, da sociedade como um todo. Ele envolve produtores rurais, ONGs, iniciativas privadas, bancos, governos, meios acadêmicos, entre outros. Todas são importantes. Ao todo fechamos seis durante a Rio+20 e temos outras para assinar até o fim do ano no Estado do Pará", destacou Justiniano, lembrando que, na semana passada foi assinado acordo com o Banco do Brasil e, ontem, com a mineradora Hydro, que vai acompanhar a capacitação de noventa técnicos em geoprocessamento. A sexta parceria será fechada hoje com a Regions 20, fundada pelo ex-governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger.

UNIVERSITÁRIOS PARAENSES ENCENAM BANQUETE ANTROPOFÁGICO - Cabeças, pernas e braços de índios servidos ao molho pardo ou em saladas. Com este banquete antropofágico, os estudantes universitários indígenas e não indígenas de diversas faculdades de Belém, que compõem o Juventude Universitária pelas Causas Indígenas (Juci), protestaram ontem em frente às escadarias da Câmara Municipal na Cinelândia. Segundo organizadores da encenação, o protesto foi em razão deles estarem cansados de assistir passivamente ao assédio que lideranças indígenas vêm sofrendo no Pará para assinar contratos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (Redd).

"A intenção é questionar. Cada vez mais percebemos que o indígena, o nosso povo, está cada vez mais distante das negociações, dos projetos que são importantes a nossa participação. Então, nós estamos nos qualificando para ver se a gente consegue ter esse contato, de igual para igual, diante de grandes empresas. A dúvida do indígena e dos estudantes é de quem vai ser esse carbono? Eles vão pagar para nós os indígenas, uma vez que são essas as terras mais cobiçadas internacionalmente? Por que o Redd não é debatido de igual para igual com a sociedade toda? Será que não é mais um nome para vender a Amazônia? Então, já que eles querem a Amazônia, nós entendemos que a floresta é o prato principal e nós, os indígenas, seremos uma pequena sobremesa", explicou Eliene Rodrigues, 34, indígena da etnia Baré, e estudante de Biomedicina da Universidade Federal do Pará (UFPA).

A teatralização mobilizou todos que passavam na tarde de ontem pela Cinelândia, o centro nervoso da capital carioca. Os estudantes paraenses apareceram encapuzados vestindo ternos e gravatas devorando o interior da cabeça de índios (de madeira). A ideia fazia alusão à forma como estão tentando implantar o mercado de Redd no Pará. Inspirado nesta temática, a performance utilizou, ainda, uma bandeira do Pará estilizada como toalha de mesa e pedaços cenográficos de corpo de índio misturados a comida e servidos em bandejas de prata que representavam o que o Redd está causando entre os índios do país.

REVISTA DISCUTE MEIO AMBIENTE POR MEIO DE MÚSICA E LITERATURA - Foi lançado ontem durante a Rio+20 a décima quarta edição da "Revista PZZ - Arte, Comunicação e Cultura", com o tema Amazônia: Estradas da última fronteira". O periódico discute, nessa nova versão, os aspectos paisagísticos, geopolíticos e socioculturais da Floresta Amazônica, evidenciados por um ponto de vista crítico. A revista traz ao leitor uma análise das transformações sofridas pela floresta, levando em conta a evolução histórica do Brasil. O ensaio autoral de Paulo Santos fugiu a tradição de museus e galerias ao debater a floresta, mas retrata a Amazônia de forma distinta, tentando inovar nas discussões acerca de temas políticos, sociais e culturais de uma região, que segundo os editores da revista, é formada por contrastes e está inserida em um ambiente complexo e globalizado.

Para o editor responsável e diretor da revista, Carlos Pará, o periódico tem, entre seus objetivos principais, as missões de provocar o debate entre os integrantes da sociedade civil e promover os temas da revista. "Nós levamos essas discussões para além da nossa redação, convocando estudantes em universidades e integrantes da sociedade civil a participar de assuntos que são de suma importância para a Região Norte e para o Brasil", completou. Os assuntos discutidos na revista, segundo Carlos, são apresentados por meio de expressões culturais, como a música e a literatura.

Já para a fonte principal desse número, o fotojornalista Paulo Santos, a revista tem o papel de aproximar os nortistas de pautas extremamente importantes para a sua região. Segundo ele, essas informações não são divulgadas com intensidade ou frequência pela mídia. "Boa parte dos meios de comunicação não absorve temas essenciais relacionados à floresta para retransmiti-los à população, nós vamos na contramão, com outro objetivo. Nós estamos tentando levar o contexto da floresta para o nortista e para o brasileiro", explicou.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O Grito da Amazônia na Rio+20


A Amazônia Legal (que abrange os estados do Acre, Amapá, Amazonas, parte do Maranhão, parte de Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) tem 5.217.423 quilômetros quadrados, compreendendo 61% do território brasileiro e 67% das florestas tropicais do planeta. Se fosse um país, seria o sexto maior do mundo em extensão territorial. A Região Hidrográfica Amazônica é constituída pelas bacias dos rios Amazonas em território nacional; da ilha de Marajó; e do Estado do Amapá, que deságuam no Atlântico Norte, perfazendo um total de 3.870.000 quilômetros quadrados. A bacia internacional do rio Amazonas é constituída pela mais extensa rede hidrográfica do planeta, com 6.110.000 quilômetros quadrados, desde suas nascentes, nos Andes peruanos, até sua foz, no oceano Atlântico.
Esta bacia continental se estende sobre 7 países da América do Sul: Brasil (63%), Peru (17%), Bolívia (11%), Colômbia (5,8%), Equador (2,2%), Venezuela (0,7%) e Guiana (0,2%). São 25 mil quilômetros de rios navegáveis. Segundo o livro Geo Amazônia – Perspectivas do Meio ambiente na Amazônia (OTCA – Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, 2008), o rio Amazonas despeja no oceano Atlântico 220 mil metros cúbicos de água por segundo, em média, chegando a 300 mil metros cúbicos por segundo nas cheias, 20% da água doce de superfície do planeta, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA). Na bacia amazônica vivem cerca de 3 mil espécies de peixes. Em toda a Europa, as espécies de água doce não passam de 200.
A região abriga um terço das árvores do mundo. São 5 mil espécies de árvores, enquanto na América do Norte há cerca de 650 espécies. As florestas cobrem 64% da Amazônia Legal e as formações não florestais – cerrados e campos naturais – cobrem outros 22%. O restante, 14% da cobertura vegetal da Amazônia, já foi desmatado.
O número total de mamíferos existentes no mundo é estimado em 4.650 espécies. Na Amazônia, são registradas 311. Há mais de mil espécies de aves das 9.700 no mundo. Das 7.500 espécies de borboletas, 1.800 vivem na Amazônia. Há 3 mil espécies de formigas e das mais de 30 mil de abelhas, 3 mil vivem na região amazônica. Foi registrado na Amazônia brasileira um total de 300 espécies de répteis e 163 de anfíbios, e calcula-se que haja 2,5 milhões de invertebrados e número incalculável de microrganismos.
REGULADORA DO CLIMA EM ESCALA PLANETÁRIA – Além da fantástica biodiversidade da Grande Floresta, a Amazônia, segundo estudos de ponta e largamente difundidos na mídia mundial, regula o clima em escala planetária. A evaporação da água retida nas folhas das árvores absorve grande parte da energia solar, baixando a temperatura no solo. A evapotranspiração na Amazônia é tão grande que é responsável por cerca de 50% das chuvas que a floresta recebe, e de 15% a 20% das águas que fluem para os oceanos provêm da Amazônia, influenciando as grandes correntes marítimas e, assim, o clima global.
Porém a mais discutida influência da Amazônia no clima se refere à sua função como armazém de carbono, que, sem a floresta, estaria solto na atmosfera, em forma de gás carbônico, aumentando o efeito estufa no planeta. Esse gás é absorvido pelas árvores e armazenado na madeira. Estima-se que a Amazônia absorva cerca de 10% das emissões globais de CO2 provenientes da queima de combustíveis fósseis em carros e fábricas. O Brasil mantém em seu território a maior extensão de floresta tropical do planeta, armazenando quase 50 bilhões de toneladas de carbono, o equivalente ao que o mundo emite queimando combustíveis durante mais de 5 anos. Em torno de 200 bilhões de toneladas de carbono são absorvidas pela vegetação tropical em todo o mundo, dos quais cerca de 70 bilhões apenas pelas árvores amazônicas.
Estima-se que em torno de 20% das emissões globais de gases que causam o efeito estufa provêm da derrubada de florestas tropicais em todo o mundo. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU (IPPC), o aquecimento global está ligado diretamente à concentração de gás carbônico na atmosfera. De acordo com o relatório Stern, encomendado pelo governo britânico e divulgado em 2006, a perda de florestas contribui mais que o setor de transporte para as emissões de gás carbônico.
Parte do carbono absorvido pelas árvores é liberada por meio da decomposição da matéria orgânica e a respiração da floresta à noite, mas o que realmente contribui para o aquecimento global é a queima da floresta, o que libera todo o carbono armazenado. Estudos mostram que a partir do desmatamento de 40% da Amazônia, o clima mudará definitivamente, levando a um aumento de temperatura de até 4° C. Como 80% das áreas desmatadas na Amazônia são primeiramente transformadas em pastos para a criação bovina, além do gás carbônico liberado pelas queimadas para a formação dos pastos, o gado contribui para o efeito estufa emitindo gás metano.
Vivem na região cerca de 25 milhões de habitantes, sendo 68,9% residentes na área urbana e 31,1%, cerca de 8.120.418 habitantes, na área rural (IBGE, 2010). Sem outros recursos, senão vender a floresta como commodity, os habitantes da Hileia a estão perdendo para toda sorte de aventureiros, grupos comerciais e grandes projetos, inclusive do governo brasileiro.
A SOLUÇÃO – Viu-se, até aqui, que a conservação da floresta tropical úmida brasileira, região que apresenta a maior biodiversidade do planeta, é vital para o equilíbrio do clima global. E os amazônidas (indígenas, ribeirinhos, quilombolas, seringueiros, caboclos em geral), os verdadeiros donos da Hileia, que só contam com a venda de árvores das suas terras, de que viverão? A conclusão é a de que só há uma saída para a conservação da Grande Floresta e a sobrevivência dos povos que nela vivem, que é o desenvolvimento sustentável, o qual, no seu conceito, traz uma premissa fundamental: sustentável, em primeiro lugar, para o amazônida, que é o habitante da Hileia.
Até agora, quando se utiliza o conceito sustentável, pensa-se, em primeiro lugar, nos grandes grupos comerciais que se instalam na Amazônia; nas empresas estatais, especialmente as de geração de energia hidrelétrica; nos grupos comerciais estrangeiros, como é o caso da Albras/Alunorte, que agrega energia hidrelétrica à exportação de alumina para o Japão, além de gerar poucos empregos no Estado do Pará, onde fica a Hidrelétrica de Tucuruí – embora grande parte do interior do Pará não conte com energia elétrica firme.
Assim, a preservação de grandes áreas florestais só será possível se houver mecanismos capazes de dar valor monetário à floresta em pé. A Amazônia brasileira não é almoxarifado e não precisa de esmola. Precisa ser remunerada pelo que se tira de lá, e também que projetos como o Plano Amazônia Sustentável (PAS), que envolve 21 ministérios, saiam do papel. Do mesmo modo, o Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago do Marajó, de 2007, que envolve 13 ministérios, não saiu do papel. Mas de onde virá o financiamento para o desenvolvimento sustentável do amazônida?
Dinheiro há. O Fundo Amazônia, criado em agosto de 2008, para financiar projetos sustentáveis na região e administrado pelo BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), conta com US$ 1 bilhão, e o BNDES só gastou US$ 89 milhões, até agora. O que está acontecendo? Foi para responder a essa pergunta, e para mostrar luz no fim do túnel amazônico, que a Frente Parlamentar em Defesa da Amazônia e do seu Povo, da Câmara dos Deputados, frente da qual sou presidente, realizou, com apoio do Senado Federal, dia 30 de maio de 2012, no Interlegis, o seminário Povo e Floresta: Amazônia Sustentável – Rumo à Rio+20.
Trago, assim, o Grito da Amazônia, para ecoar na Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio+20, que a Organização das Nações Unidas (ONU) realiza nesta cidade do Rio de Janeiro, de 13 a 22 de junho de 2012. O Grito da Amazônia é o resultado do seminário Povo e Floresta: Amazônia Sustentável, que debateu: a importância do Trópico Úmido para o planeta; seu problema crucial, que é a destruição da floresta; e a solução, que são o Sistema Agroflorestal e o Programa Municípios Verdes. Este documento também deixa claro, para o governo brasileiro, que sem o dinheiro do Fundo Amazônia e sem investimentos em projetos estratégicos para a região, o que significa dizer investir no amazônida, não haverá desenvolvimento sustentável, e o Trópico Úmido continuará sendo apenas o almoxarifado de onde o governo federal retira energia elétrica e commodities para exportação, como ferro, por exemplo, vendido sem valor agregado e praticamente sem royalties.
“Vejo a necessidade de o governo dar mais atenção à Amazônia” – disse, no seminário, o deputado federal Francisco Praciano (PT/AM), vice-presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Amazônia e do seu Povo e presidente da Frente de Combate à Corrupção. “Falta visão estratégica para a Amazônia. As hidrelétricas são estratégicas, mas não há projetos específicos para a Amazônia, como, por exemplo, pesquisa em biotecnologia.” Francisco Praciano informou que 42% dos amazônidas estão em estado de pobreza e 16% em estado de extrema pobreza (IBGE, 2009). “A Amazônia é uma região de cidadãos de terceira categoria. Pobreza não se coaduna com sustentabilidade; com fome ninguém pensa em Rio+20. A Amazônia tem muito a oferecer à Humanidade, por isso é necessário pensar o amazônida como cidadão de primeira categoria.”
PROGRAMA MUNICÍPIOS VERDES/DESMATAMENTO ZERO – O prefeito de Paragominas (PA), Adnan Demachki, apresentou, no seminário, um dos mais exitosos projetos em curso na Amazônia, que é o Programa Municípios Verdes, o qual teve início em 23 de março de 2011 e hoje está presente em 94 municípios paraenses e em alguns municípios de outros estados da Amazônia. “O grande segredo do projeto não foi marco regulatório, mas o pacto social” – disse Adnan Demachki. Com efeito, a alma do programa foi o pacto social que o governo paraense firmou com o governo federal, administrações municipais, Ministério Público, empresários, produtores e outras instituições representativas de setores produtivos, visando promover o desenvolvimento econômico paraense ao mesmo tempo em que busca atingir a tão almejada meta de desmatamento zero, e se firma precisamente no tripé: Sistema Agroflorestal; agregação de tecnologia à agropecuária; e plantação de árvores nativas, numa escala de 10 milhões por ano, recuperando áreas degradadas.
SISTEMA AGROFLORESTAL – O Sistema Agroflorestal é o melhor modelo de agricultura para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. “Trata-se de agricultura com silvicultura, modelo que desenvolvemos há 38 anos” – afirmou Ivan Hitosh Saiki, diretor da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta), no Pará. Por exemplo: planta-se numa mesma área mogno, açaizeiro, bananeira e cacaueiro. Além dos diversos vegetais conviverem harmonicamente entre si e com a floresta, geram safra de diferentes produtos o ano inteiro. Constitui-se, assim, numa fábrica de florestas produtivas, repovoando áreas degradadas e gerando sustento o ano todo.
Para o economista e amazonólogo Juarez Baldoino da Costa, o Sistema Agroflorestal, com a recomposição de pelo menos 1% da floresta por ano, aliado a mais satélites de monitoramente da floresta, resolveria o problema de degradação da Hileia, convergindo para o desmatamento zero.
O presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICM-Bio), Roberto Vizentin, que representou no seminário a ministra do Meio Ambiente, Isabela Teixeira, disse que o Plano Amazônia Sustentável gerou o diagnóstico de que o modelo de ocupação da Amazônia Legal foi negativo do ponto de vista da sustentabilidade, até porque “há muitas Amazônias”, disse, referindo-se à complexidade continental da Hileia. Entre as soluções, Vizentin destacou o ordenamento da ocupação fundiária; infraestrutura e logística de transportes; e fomento de atividades sustentáveis. “Precisamos de ciência e tecnologia na Amazônia” – disse ele, observando que a região é um “almoxarifado”, utilizado como área extrativista. “A melhor estratégia de conservação da Amazônia é o uso sustentável dela.”
O subsecretário de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE), Pérsio Marco Antonio Davison, na sua palestra A Amazônia no Brasil 2022, 200 anos de Independência, disse que “pensar a Amazônia é pensar a diversidade, e o Sistema Agroflorestal é importantíssimo para a recuperação da floresta e o desenvolvimento sustentável; assim, a monocultura é um desrespeito à diversidade”.
Observou também que vige entre os amazônidas a ideia de que a mata agride e que essa mentalidade só mudará à medida que o Sistema Agroflorestal for difundido em escala, em toda a Amazônia. “Há 50 anos, a ideia era de que o desenvolvimento da Amazônia era a eliminação da floresta; agora se sabe que a Amazônia precisa ter modelo próprio de desenvolvimento, utilizando a biodiversidade.”
O coordenador geral da Rede Nossa São Paulo, Oded Grajew, que falou no seminário sobre o Programa Cidades Sustentáveis, fez uma observação importante: os governos municipais dos grandes centros consumidores precisam desenvolver fiscalização eficiente sobre a origem dos produtos importados, observando que metade do carvão vegetal comercializado nas cidades é oriundo do desmatamento ilegal.
MARCO REGULATÓRIO – O presidente da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), César Bechara Nader Mattar Jr., ao falar sobre O Ministério Público e a Rio+20, disse que é necessário sensibilizar sociedade e Estado sobre a necessidade de se respeitar a compatibilidade dos sistemas naturais com as intervenções dos grandes projetos, em obediência aos ditames de tratados internacionais assinados pelo Brasil. Ele destacou que “em um cenário de incertezas e contradições relacionadas ao uso da água são necessários atenção e cuidado para garantir o melhor gerenciamento dos recursos hídricos na região do Trópico Úmido, tanto pela magnitude da reserva disponível de água doce apresentada, como também pelo próprio ecossistema e a biodiversidade, fundamental para a regulação do clima no planeta e para o desenvolvimento sustentável de suas populações”.
A solução para isso, segundo o presidente da Conamp, “é estimular a participação da sociedade civil nos processos de implantação de projetos e programas com significativa intervenção nos rios e curso d’água na Amazônia, mediante a formalização dos comitês de bacias e sub-bacias”. Sobre a participação nos lucros pela exploração de recursos da biodiversidade e conhecimento tradicional pelos povos amazônicos, César Bechara Nader Mattar Jr. lembrou do trabalho desenvolvido pela promotora de Justiça do Distrito Federal e Territórios, Juliana Santilli. “No trabalho Socioambientalismo e novos direitos, Juliana Santilli recomenda a criação de regime jurídico de proteção aos conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade para evitar a apropriação e utilização indevida por terceiros e para garantir a segurança na relação entre os interessados nesses recursos e os detentores deles, combatendo assim a biopirataria.”
Mattar Jr. falou ainda sobre a necessidade da instituição de meios jurídicos de defesa do meio ambiente. “É preciso, com urgência, garantir às presentes e futuras gerações a existência humana em um meio ambiente ecologicamente equilibrado, o que impõe aos Estados um dever, compartilhado com a própria sociedade, inserindo-se, portanto, no campo dos direitos humanos.”
Já o presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Nelson Henrique Calandra, que falou no seminário Povo e Floresta: Amazônia Sustentável – Rumo à Rio+20, sobre A Contribuição das Câmaras Especializadas em Direito Ambiental, explicou que “foi preciso dialogar com o Governo para estabelecer um método de julgamento que não quebre a sequência da vida da população, mas que possa dar aquelas referências que são necessárias para paralisar determinadas atividades que violam e machucam o meio ambiente”.
O presidente da Associação dos Magistrados do Amazonas (Amazon) e conselheiro Fiscal da AMB, desembargador Aristóteles Thury, que participou da palestra A Contribuição das Câmaras Especializadas em Direito Ambiental, informou que Manaus é precursora na criação de uma vara especializada em Meio Ambiente e explanou os objetivos do Encontro de Direito Ambiental da AMB, que será realizado na capital amazonense, de 8 a 11 de agosto. “O encontro será realizado logo após a realização da Rio+20. Vai ser muito importante, pois personalidades ligadas ao meio ambiente estarão lá para nos ensinar e trazer novas soluções e conhecimentos baseados nos resultados da Conferência.”
Em resumo, a floresta amazônica é importante para a Humanidade, porque é peça fundamental no equilíbrio climático do planeta, razão pela qual não deve ser destruída. Mas de que viverão seus habitantes, 25 milhões de brasileiros, já que estão abandonados à própria sorte e não lhes resta senão vender a floresta? A solução, pois, no Programa Municípios Verdes, no Sistema Agroflorestal e na ação do governo federal, sobretudo em projetos como o Plano Amazônia Sustentável (PAS), que não passam do discurso e se eternizam no papel. O dinheiro que deve ser investido no desenvolvimento sustentável da Amazônia precisa ser garantido no Orçamento da União. Já o Fundo Amazônia, criado para financiar projetos sustentáveis na região, está empacado, pois nem o governo federal, nem a diretoria do BNDES, gestora do Fundo, compreenderam que, explorada de forma sustentável, a Amazônia representa o futuro do Brasil, e do planeta.

SÍNTESE DAS PROPOSTAS DA FRENTE PARLAMENTAR EM DEFESA DA AMAZÔNIA E DO SEU POVO
1 – Materialização do discurso em defesa da Amazônia no Orçamento Geral da União.
2 – Aplicação imediata do Fundo Amazônia.
3 – Dar início com urgência à execução do Plano Amazônia Sustentável (PAS).
4 – Investir maciçamente, e de forma nunca descontinuada, em ciência e tecnologia, na busca de alternativas econômicas, especialmente em biotecnologia.
5 – Universalização do Programa Municípios Verdes.
6 – Estímulo, financiamento e definição de programas voltados à expansão do Sistema Agroflorestal.
7 – Definição institucional de critérios para a remuneração de serviços ambientais e para que o mercado de carbono se torne realidade.
8 – Desmatamento zero como premissa essencial para a vida.

POVO E FLORESTA: AMAZÔNIA SUSTENTÁVEL – RUMO À RIO+20 - Compuseram a mesa do seminário Povo e Floresta: Amazônia Sustentável – Rumo à Rio+20, presidida pelo deputado Zenaldo Coutinho (PSDB/PA), os palestrantes:
Deputado Francisco Praciano, vice-presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Amazônia e do seu Povo
Senador Flexa Ribeiro (PSDB/PA)
Presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICM-Bio), Roberto Vizentin – Plano Amazônia Sustentável e o PAC/Rio+20
Presidente da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), César Bechara Nader Mattar Jr. – O Ministério Público e a Rio+20
Prefeito de Paragominas, Adnan Demachki – Programa Municípios Verdes
Presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Nelson Henrique Calandra – A Contribuição das Câmaras Especializadas em Direito Ambiental
Presidente da Associação dos Magistrados do Amazonas (Amazon) e conselheiro Fiscal da AMB, desembargador Aristóteles Thury – A Contribuição das Câmaras Especializadas em Direito Ambiental
Hidrólogo Henrique Chaves, da Universidade de Brasília (UnB) – Caminhos para a sustentabilidade na Amazônia
Economista e amazonólogo Juarez Baldoino da Costa – Biomas Brasileiros em Números
Gilberto Martins, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) – Repressão Criminal – Biopirataria na Amazônia
Coordenador geral da Rede Nossa São Paulo, Oded Grajew – Programa Cidades Sustentáveis
Diretor da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta), Ivan Hitoshi Saiki – O Sistema Agroflorestal
Pérsio Marco Antonio Davison, subsecretário de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE) – A Amazônia no Brasil 2022, 200 anos de Independência
Estiveram presentes ao seminário, além de representantes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, pesquisadores, estudantes e jornalistas que cobrem a chamada “questão amazônica”.


ZENALDO COUTINHO

Deputado federal pelo PSDB do Pará, presidente da Frente Parlamentar em Defesa
da Amazônia e do seu Povo, e do seminário Povo e Floresta: Amazônia Sustentável


FRANCISCO PRACIANO

Deputado federal pelo PT do Amazonas, vice-presidente da
Frente Parlamentar em Defesa da Amazônia e do seu Povo

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Governador tem meta de desmatamento zero no Pará


EMANUEL BOMFIM
e PAULINA CHAMORRO
Veja.com


RIO DE JANEIRO, 15 de junho de 2012 - Um caso raro de gestão pública no Brasil promete se estender para o segundo maior Estado do país, pelo menos no que diz respeito a iniciativas ambientais. A cidade de Paragominas, surgida às margens da rodovia Belém-Brasília, era conhecida como a capital do desmatamento. Em poucos anos e graças à boa vontade política, ela se transformou em "município verde" e, agora, modelo a ser implementado em todo o Pará.
Em anúncio feito durante um dos eventos paralelos à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, o governador Simão Jatene (PSDB) assumiu a meta de desmatamento zero no Estado a partir de 2020. A proposta supera a meta nacional de 80%, firmada no Programa de Municípios Verdes em 2011. "É absolutamente possível, mas não significa que seja simples", ponderou Jatene.
Um dos pilares para concretizar tamanho desafio, segundo ele, é melhorar a eficiência das atividades pecuárias, distribuídas por 18 milhões de hectares das terras paraenses. "É uma bobagem falar que o desmatamento líquido zero é se opor ao desenvolvimento e que irá travar a expansão da economia, ao contrário, é dar racionalidade à ela. É levar produtividade das áreas que já estão abertas", defendeu o mandatário.
O governo local também pretende ampliar o número de imóveis no cadastro ambiental. Hoje, 50 mil propriedades estão regularizadas. Até 2009 eram cerca de 400, apenas. Uma ação no Ministério Público na época obrigou os frigoríficos a exigir os cadastros das fazendas. O salto foi imediato. Até 2014, a expectativa é ter 150 mil imóveis.
Em meio ao impasse que vive a finalização do texto a ser debatido pelos chefes de Estado na Rio+20, a promessa surge como uma das mais ambiciosas até agora, ainda mais por ser uma iniciativa estadual. "Eu sempre digo que eu não quero ser o motor da história, só não quero ir a reboque dela. Eu quero ir junto. Eu me sinto apenas como mais um homem que nasceu e se criou na Amazônia e que tenho, por toda experiência de vida, como ousar assumindo coisas desse tipo."