quarta-feira, 20 de junho de 2012

Amazônia grita na Rio+20

Parlamentares apresentam na conferência das nações unidas documento com as demandas da região


THIAGO VILARINS
Enviado especial das Organizações
Romulo Maiorana à Rio+20


BELÉM, 20 de junho de 2012 - Autoridades da Organização das Nações Unidas (ONU) e participantes da Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio+20, receberam nos últimos dois dias o documento Grito da Amazônia, um documento com as demandas da região, gerado no Congresso Nacional no fim do mês de maio, no seminário Povo e Floresta: Amazônia Sustentável - Rumo à Rio+20. O documento, todo em papel reciclável, foi entregue pelos deputados Zenaldo Coutinho (PSDB-PA) e Francisco Praciano (PT-AM), presidente e vice-presidente, respectivamente, da Frente Parlamentar em Defesa da Amazônia e do seu Povo.

O documento enfoca a importância da Amazônia (maior floresta tropical e bacia hidrográfica do mundo) para o planeta, seu problema crucial (a destruição da floresta) e a solução (Programa Municípios Verdes e Sistema Agroflorestal). E também deixa claro para o governo brasileiro que sem o dinheiro do Fundo Amazônia e sem investimentos em projetos estratégicos para a região, "o que significa dizer investir no amazônida", não haverá desenvolvimento sustentável, e o Trópico Úmido continuará sendo apenas o almoxarifado de onde o governo federal retira energia elétrica e commodities para exportação, como ferro, vendido sem valor agregado e praticamente sem royalties.

"A Amazônia não é almoxarifado e não precisa de esmola. Precisa ser remunerada pelo que se tira de lá, e também que projetos como o Plano Amazônia Sustentável (PAS), que envolve 21 ministérios, saiam do papel. Dinheiro há. O Fundo Amazônia, criado em 2009 para financiar projetos sustentáveis na região e administrado pelo BNDES (Banco nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) conta com US$ 1 bilhão, e o BNDES só gastou US$ 89 milhões. O que está acontecendo?", questionou o deputado Zenaldo, ao explicar o teor do Grito da Amazônia.

Para o deputado Praciano, que também é presidente da Frente de Combate à Corrupção, o Grito da Amazônia revela a necessidade de o governo dar mais atenção à Amazônia. "Falta visão estratégica para a Amazônia. As hidrelétricas são estratégicas, mas não há projetos específicos para a Amazônia, como, por exemplo, pesquisa em biotecnologia", explicou. Segundo ele, 42% dos amazônidas estão em estado de pobreza e 16% em estado de extrema pobreza. "A Amazônia é uma região de cidadãos de terceira categoria. Pobreza não se coaduna com sustentabilidade; com fome ninguém pensa em Rio+20. Estamos destruindo o que os outros cobiçam."

São oito as propostas principais da frente parlamentar apresentadas no documento: materialização do discurso em defesa da Amazônia no Orçamento Geral da União; aplicação imediata do Fundo Amazônia; dar início com urgência à execução do Plano Amazônia Sustentável (PAS); investir maciçamente, e de forma nunca descontinuada, em ciência e tecnologia, na busca de alternativas econômicas, especialmente em biotecnologia; universalização do Programa Municípios Verdes; estímulo, financiamento e definição de programas voltados à expansão do Sistema Agroflorestal; definição institucional de critérios para a remuneração de serviços ambientais e para que o mercado de carbono se torne realidade; e desmatamento zero como premissa essencial para a vida.

MUNICÍPIOS VERDES FIRMA TRÊS PARCERIAS - O Programa Municípios Verdes firmou ontem mais três novos acordos no Fórum Amazônia Sustentável realizado na Rio+20. As novas parcerias, anunciadas no Teatro Maria Clara Machado (Planetário da Gávea), são do Programa Rede Cidades Sustentáveis, o Banco da Amazônia e a Bolsa Verde do Rio de Janeiro. De acordo com o secretário extraordinário do Programa Municípios Verdes, Justiniano Netto, as novas parcerias baseiam-se na importância de permear novos caminhos para o desenvolvimento sustentável no Estado.

"A parceria é um dos pilares do programa, pois, esse tem um protagonismo coletivo, da sociedade como um todo. Ele envolve produtores rurais, ONGs, iniciativas privadas, bancos, governos, meios acadêmicos, entre outros. Todas são importantes. Ao todo fechamos seis durante a Rio+20 e temos outras para assinar até o fim do ano no Estado do Pará", destacou Justiniano, lembrando que, na semana passada foi assinado acordo com o Banco do Brasil e, ontem, com a mineradora Hydro, que vai acompanhar a capacitação de noventa técnicos em geoprocessamento. A sexta parceria será fechada hoje com a Regions 20, fundada pelo ex-governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger.

UNIVERSITÁRIOS PARAENSES ENCENAM BANQUETE ANTROPOFÁGICO - Cabeças, pernas e braços de índios servidos ao molho pardo ou em saladas. Com este banquete antropofágico, os estudantes universitários indígenas e não indígenas de diversas faculdades de Belém, que compõem o Juventude Universitária pelas Causas Indígenas (Juci), protestaram ontem em frente às escadarias da Câmara Municipal na Cinelândia. Segundo organizadores da encenação, o protesto foi em razão deles estarem cansados de assistir passivamente ao assédio que lideranças indígenas vêm sofrendo no Pará para assinar contratos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (Redd).

"A intenção é questionar. Cada vez mais percebemos que o indígena, o nosso povo, está cada vez mais distante das negociações, dos projetos que são importantes a nossa participação. Então, nós estamos nos qualificando para ver se a gente consegue ter esse contato, de igual para igual, diante de grandes empresas. A dúvida do indígena e dos estudantes é de quem vai ser esse carbono? Eles vão pagar para nós os indígenas, uma vez que são essas as terras mais cobiçadas internacionalmente? Por que o Redd não é debatido de igual para igual com a sociedade toda? Será que não é mais um nome para vender a Amazônia? Então, já que eles querem a Amazônia, nós entendemos que a floresta é o prato principal e nós, os indígenas, seremos uma pequena sobremesa", explicou Eliene Rodrigues, 34, indígena da etnia Baré, e estudante de Biomedicina da Universidade Federal do Pará (UFPA).

A teatralização mobilizou todos que passavam na tarde de ontem pela Cinelândia, o centro nervoso da capital carioca. Os estudantes paraenses apareceram encapuzados vestindo ternos e gravatas devorando o interior da cabeça de índios (de madeira). A ideia fazia alusão à forma como estão tentando implantar o mercado de Redd no Pará. Inspirado nesta temática, a performance utilizou, ainda, uma bandeira do Pará estilizada como toalha de mesa e pedaços cenográficos de corpo de índio misturados a comida e servidos em bandejas de prata que representavam o que o Redd está causando entre os índios do país.

REVISTA DISCUTE MEIO AMBIENTE POR MEIO DE MÚSICA E LITERATURA - Foi lançado ontem durante a Rio+20 a décima quarta edição da "Revista PZZ - Arte, Comunicação e Cultura", com o tema Amazônia: Estradas da última fronteira". O periódico discute, nessa nova versão, os aspectos paisagísticos, geopolíticos e socioculturais da Floresta Amazônica, evidenciados por um ponto de vista crítico. A revista traz ao leitor uma análise das transformações sofridas pela floresta, levando em conta a evolução histórica do Brasil. O ensaio autoral de Paulo Santos fugiu a tradição de museus e galerias ao debater a floresta, mas retrata a Amazônia de forma distinta, tentando inovar nas discussões acerca de temas políticos, sociais e culturais de uma região, que segundo os editores da revista, é formada por contrastes e está inserida em um ambiente complexo e globalizado.

Para o editor responsável e diretor da revista, Carlos Pará, o periódico tem, entre seus objetivos principais, as missões de provocar o debate entre os integrantes da sociedade civil e promover os temas da revista. "Nós levamos essas discussões para além da nossa redação, convocando estudantes em universidades e integrantes da sociedade civil a participar de assuntos que são de suma importância para a Região Norte e para o Brasil", completou. Os assuntos discutidos na revista, segundo Carlos, são apresentados por meio de expressões culturais, como a música e a literatura.

Já para a fonte principal desse número, o fotojornalista Paulo Santos, a revista tem o papel de aproximar os nortistas de pautas extremamente importantes para a sua região. Segundo ele, essas informações não são divulgadas com intensidade ou frequência pela mídia. "Boa parte dos meios de comunicação não absorve temas essenciais relacionados à floresta para retransmiti-los à população, nós vamos na contramão, com outro objetivo. Nós estamos tentando levar o contexto da floresta para o nortista e para o brasileiro", explicou.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O Grito da Amazônia na Rio+20


A Amazônia Legal (que abrange os estados do Acre, Amapá, Amazonas, parte do Maranhão, parte de Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) tem 5.217.423 quilômetros quadrados, compreendendo 61% do território brasileiro e 67% das florestas tropicais do planeta. Se fosse um país, seria o sexto maior do mundo em extensão territorial. A Região Hidrográfica Amazônica é constituída pelas bacias dos rios Amazonas em território nacional; da ilha de Marajó; e do Estado do Amapá, que deságuam no Atlântico Norte, perfazendo um total de 3.870.000 quilômetros quadrados. A bacia internacional do rio Amazonas é constituída pela mais extensa rede hidrográfica do planeta, com 6.110.000 quilômetros quadrados, desde suas nascentes, nos Andes peruanos, até sua foz, no oceano Atlântico.
Esta bacia continental se estende sobre 7 países da América do Sul: Brasil (63%), Peru (17%), Bolívia (11%), Colômbia (5,8%), Equador (2,2%), Venezuela (0,7%) e Guiana (0,2%). São 25 mil quilômetros de rios navegáveis. Segundo o livro Geo Amazônia – Perspectivas do Meio ambiente na Amazônia (OTCA – Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, 2008), o rio Amazonas despeja no oceano Atlântico 220 mil metros cúbicos de água por segundo, em média, chegando a 300 mil metros cúbicos por segundo nas cheias, 20% da água doce de superfície do planeta, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA). Na bacia amazônica vivem cerca de 3 mil espécies de peixes. Em toda a Europa, as espécies de água doce não passam de 200.
A região abriga um terço das árvores do mundo. São 5 mil espécies de árvores, enquanto na América do Norte há cerca de 650 espécies. As florestas cobrem 64% da Amazônia Legal e as formações não florestais – cerrados e campos naturais – cobrem outros 22%. O restante, 14% da cobertura vegetal da Amazônia, já foi desmatado.
O número total de mamíferos existentes no mundo é estimado em 4.650 espécies. Na Amazônia, são registradas 311. Há mais de mil espécies de aves das 9.700 no mundo. Das 7.500 espécies de borboletas, 1.800 vivem na Amazônia. Há 3 mil espécies de formigas e das mais de 30 mil de abelhas, 3 mil vivem na região amazônica. Foi registrado na Amazônia brasileira um total de 300 espécies de répteis e 163 de anfíbios, e calcula-se que haja 2,5 milhões de invertebrados e número incalculável de microrganismos.
REGULADORA DO CLIMA EM ESCALA PLANETÁRIA – Além da fantástica biodiversidade da Grande Floresta, a Amazônia, segundo estudos de ponta e largamente difundidos na mídia mundial, regula o clima em escala planetária. A evaporação da água retida nas folhas das árvores absorve grande parte da energia solar, baixando a temperatura no solo. A evapotranspiração na Amazônia é tão grande que é responsável por cerca de 50% das chuvas que a floresta recebe, e de 15% a 20% das águas que fluem para os oceanos provêm da Amazônia, influenciando as grandes correntes marítimas e, assim, o clima global.
Porém a mais discutida influência da Amazônia no clima se refere à sua função como armazém de carbono, que, sem a floresta, estaria solto na atmosfera, em forma de gás carbônico, aumentando o efeito estufa no planeta. Esse gás é absorvido pelas árvores e armazenado na madeira. Estima-se que a Amazônia absorva cerca de 10% das emissões globais de CO2 provenientes da queima de combustíveis fósseis em carros e fábricas. O Brasil mantém em seu território a maior extensão de floresta tropical do planeta, armazenando quase 50 bilhões de toneladas de carbono, o equivalente ao que o mundo emite queimando combustíveis durante mais de 5 anos. Em torno de 200 bilhões de toneladas de carbono são absorvidas pela vegetação tropical em todo o mundo, dos quais cerca de 70 bilhões apenas pelas árvores amazônicas.
Estima-se que em torno de 20% das emissões globais de gases que causam o efeito estufa provêm da derrubada de florestas tropicais em todo o mundo. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU (IPPC), o aquecimento global está ligado diretamente à concentração de gás carbônico na atmosfera. De acordo com o relatório Stern, encomendado pelo governo britânico e divulgado em 2006, a perda de florestas contribui mais que o setor de transporte para as emissões de gás carbônico.
Parte do carbono absorvido pelas árvores é liberada por meio da decomposição da matéria orgânica e a respiração da floresta à noite, mas o que realmente contribui para o aquecimento global é a queima da floresta, o que libera todo o carbono armazenado. Estudos mostram que a partir do desmatamento de 40% da Amazônia, o clima mudará definitivamente, levando a um aumento de temperatura de até 4° C. Como 80% das áreas desmatadas na Amazônia são primeiramente transformadas em pastos para a criação bovina, além do gás carbônico liberado pelas queimadas para a formação dos pastos, o gado contribui para o efeito estufa emitindo gás metano.
Vivem na região cerca de 25 milhões de habitantes, sendo 68,9% residentes na área urbana e 31,1%, cerca de 8.120.418 habitantes, na área rural (IBGE, 2010). Sem outros recursos, senão vender a floresta como commodity, os habitantes da Hileia a estão perdendo para toda sorte de aventureiros, grupos comerciais e grandes projetos, inclusive do governo brasileiro.
A SOLUÇÃO – Viu-se, até aqui, que a conservação da floresta tropical úmida brasileira, região que apresenta a maior biodiversidade do planeta, é vital para o equilíbrio do clima global. E os amazônidas (indígenas, ribeirinhos, quilombolas, seringueiros, caboclos em geral), os verdadeiros donos da Hileia, que só contam com a venda de árvores das suas terras, de que viverão? A conclusão é a de que só há uma saída para a conservação da Grande Floresta e a sobrevivência dos povos que nela vivem, que é o desenvolvimento sustentável, o qual, no seu conceito, traz uma premissa fundamental: sustentável, em primeiro lugar, para o amazônida, que é o habitante da Hileia.
Até agora, quando se utiliza o conceito sustentável, pensa-se, em primeiro lugar, nos grandes grupos comerciais que se instalam na Amazônia; nas empresas estatais, especialmente as de geração de energia hidrelétrica; nos grupos comerciais estrangeiros, como é o caso da Albras/Alunorte, que agrega energia hidrelétrica à exportação de alumina para o Japão, além de gerar poucos empregos no Estado do Pará, onde fica a Hidrelétrica de Tucuruí – embora grande parte do interior do Pará não conte com energia elétrica firme.
Assim, a preservação de grandes áreas florestais só será possível se houver mecanismos capazes de dar valor monetário à floresta em pé. A Amazônia brasileira não é almoxarifado e não precisa de esmola. Precisa ser remunerada pelo que se tira de lá, e também que projetos como o Plano Amazônia Sustentável (PAS), que envolve 21 ministérios, saiam do papel. Do mesmo modo, o Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago do Marajó, de 2007, que envolve 13 ministérios, não saiu do papel. Mas de onde virá o financiamento para o desenvolvimento sustentável do amazônida?
Dinheiro há. O Fundo Amazônia, criado em agosto de 2008, para financiar projetos sustentáveis na região e administrado pelo BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), conta com US$ 1 bilhão, e o BNDES só gastou US$ 89 milhões, até agora. O que está acontecendo? Foi para responder a essa pergunta, e para mostrar luz no fim do túnel amazônico, que a Frente Parlamentar em Defesa da Amazônia e do seu Povo, da Câmara dos Deputados, frente da qual sou presidente, realizou, com apoio do Senado Federal, dia 30 de maio de 2012, no Interlegis, o seminário Povo e Floresta: Amazônia Sustentável – Rumo à Rio+20.
Trago, assim, o Grito da Amazônia, para ecoar na Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio+20, que a Organização das Nações Unidas (ONU) realiza nesta cidade do Rio de Janeiro, de 13 a 22 de junho de 2012. O Grito da Amazônia é o resultado do seminário Povo e Floresta: Amazônia Sustentável, que debateu: a importância do Trópico Úmido para o planeta; seu problema crucial, que é a destruição da floresta; e a solução, que são o Sistema Agroflorestal e o Programa Municípios Verdes. Este documento também deixa claro, para o governo brasileiro, que sem o dinheiro do Fundo Amazônia e sem investimentos em projetos estratégicos para a região, o que significa dizer investir no amazônida, não haverá desenvolvimento sustentável, e o Trópico Úmido continuará sendo apenas o almoxarifado de onde o governo federal retira energia elétrica e commodities para exportação, como ferro, por exemplo, vendido sem valor agregado e praticamente sem royalties.
“Vejo a necessidade de o governo dar mais atenção à Amazônia” – disse, no seminário, o deputado federal Francisco Praciano (PT/AM), vice-presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Amazônia e do seu Povo e presidente da Frente de Combate à Corrupção. “Falta visão estratégica para a Amazônia. As hidrelétricas são estratégicas, mas não há projetos específicos para a Amazônia, como, por exemplo, pesquisa em biotecnologia.” Francisco Praciano informou que 42% dos amazônidas estão em estado de pobreza e 16% em estado de extrema pobreza (IBGE, 2009). “A Amazônia é uma região de cidadãos de terceira categoria. Pobreza não se coaduna com sustentabilidade; com fome ninguém pensa em Rio+20. A Amazônia tem muito a oferecer à Humanidade, por isso é necessário pensar o amazônida como cidadão de primeira categoria.”
PROGRAMA MUNICÍPIOS VERDES/DESMATAMENTO ZERO – O prefeito de Paragominas (PA), Adnan Demachki, apresentou, no seminário, um dos mais exitosos projetos em curso na Amazônia, que é o Programa Municípios Verdes, o qual teve início em 23 de março de 2011 e hoje está presente em 94 municípios paraenses e em alguns municípios de outros estados da Amazônia. “O grande segredo do projeto não foi marco regulatório, mas o pacto social” – disse Adnan Demachki. Com efeito, a alma do programa foi o pacto social que o governo paraense firmou com o governo federal, administrações municipais, Ministério Público, empresários, produtores e outras instituições representativas de setores produtivos, visando promover o desenvolvimento econômico paraense ao mesmo tempo em que busca atingir a tão almejada meta de desmatamento zero, e se firma precisamente no tripé: Sistema Agroflorestal; agregação de tecnologia à agropecuária; e plantação de árvores nativas, numa escala de 10 milhões por ano, recuperando áreas degradadas.
SISTEMA AGROFLORESTAL – O Sistema Agroflorestal é o melhor modelo de agricultura para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. “Trata-se de agricultura com silvicultura, modelo que desenvolvemos há 38 anos” – afirmou Ivan Hitosh Saiki, diretor da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta), no Pará. Por exemplo: planta-se numa mesma área mogno, açaizeiro, bananeira e cacaueiro. Além dos diversos vegetais conviverem harmonicamente entre si e com a floresta, geram safra de diferentes produtos o ano inteiro. Constitui-se, assim, numa fábrica de florestas produtivas, repovoando áreas degradadas e gerando sustento o ano todo.
Para o economista e amazonólogo Juarez Baldoino da Costa, o Sistema Agroflorestal, com a recomposição de pelo menos 1% da floresta por ano, aliado a mais satélites de monitoramente da floresta, resolveria o problema de degradação da Hileia, convergindo para o desmatamento zero.
O presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICM-Bio), Roberto Vizentin, que representou no seminário a ministra do Meio Ambiente, Isabela Teixeira, disse que o Plano Amazônia Sustentável gerou o diagnóstico de que o modelo de ocupação da Amazônia Legal foi negativo do ponto de vista da sustentabilidade, até porque “há muitas Amazônias”, disse, referindo-se à complexidade continental da Hileia. Entre as soluções, Vizentin destacou o ordenamento da ocupação fundiária; infraestrutura e logística de transportes; e fomento de atividades sustentáveis. “Precisamos de ciência e tecnologia na Amazônia” – disse ele, observando que a região é um “almoxarifado”, utilizado como área extrativista. “A melhor estratégia de conservação da Amazônia é o uso sustentável dela.”
O subsecretário de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE), Pérsio Marco Antonio Davison, na sua palestra A Amazônia no Brasil 2022, 200 anos de Independência, disse que “pensar a Amazônia é pensar a diversidade, e o Sistema Agroflorestal é importantíssimo para a recuperação da floresta e o desenvolvimento sustentável; assim, a monocultura é um desrespeito à diversidade”.
Observou também que vige entre os amazônidas a ideia de que a mata agride e que essa mentalidade só mudará à medida que o Sistema Agroflorestal for difundido em escala, em toda a Amazônia. “Há 50 anos, a ideia era de que o desenvolvimento da Amazônia era a eliminação da floresta; agora se sabe que a Amazônia precisa ter modelo próprio de desenvolvimento, utilizando a biodiversidade.”
O coordenador geral da Rede Nossa São Paulo, Oded Grajew, que falou no seminário sobre o Programa Cidades Sustentáveis, fez uma observação importante: os governos municipais dos grandes centros consumidores precisam desenvolver fiscalização eficiente sobre a origem dos produtos importados, observando que metade do carvão vegetal comercializado nas cidades é oriundo do desmatamento ilegal.
MARCO REGULATÓRIO – O presidente da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), César Bechara Nader Mattar Jr., ao falar sobre O Ministério Público e a Rio+20, disse que é necessário sensibilizar sociedade e Estado sobre a necessidade de se respeitar a compatibilidade dos sistemas naturais com as intervenções dos grandes projetos, em obediência aos ditames de tratados internacionais assinados pelo Brasil. Ele destacou que “em um cenário de incertezas e contradições relacionadas ao uso da água são necessários atenção e cuidado para garantir o melhor gerenciamento dos recursos hídricos na região do Trópico Úmido, tanto pela magnitude da reserva disponível de água doce apresentada, como também pelo próprio ecossistema e a biodiversidade, fundamental para a regulação do clima no planeta e para o desenvolvimento sustentável de suas populações”.
A solução para isso, segundo o presidente da Conamp, “é estimular a participação da sociedade civil nos processos de implantação de projetos e programas com significativa intervenção nos rios e curso d’água na Amazônia, mediante a formalização dos comitês de bacias e sub-bacias”. Sobre a participação nos lucros pela exploração de recursos da biodiversidade e conhecimento tradicional pelos povos amazônicos, César Bechara Nader Mattar Jr. lembrou do trabalho desenvolvido pela promotora de Justiça do Distrito Federal e Territórios, Juliana Santilli. “No trabalho Socioambientalismo e novos direitos, Juliana Santilli recomenda a criação de regime jurídico de proteção aos conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade para evitar a apropriação e utilização indevida por terceiros e para garantir a segurança na relação entre os interessados nesses recursos e os detentores deles, combatendo assim a biopirataria.”
Mattar Jr. falou ainda sobre a necessidade da instituição de meios jurídicos de defesa do meio ambiente. “É preciso, com urgência, garantir às presentes e futuras gerações a existência humana em um meio ambiente ecologicamente equilibrado, o que impõe aos Estados um dever, compartilhado com a própria sociedade, inserindo-se, portanto, no campo dos direitos humanos.”
Já o presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Nelson Henrique Calandra, que falou no seminário Povo e Floresta: Amazônia Sustentável – Rumo à Rio+20, sobre A Contribuição das Câmaras Especializadas em Direito Ambiental, explicou que “foi preciso dialogar com o Governo para estabelecer um método de julgamento que não quebre a sequência da vida da população, mas que possa dar aquelas referências que são necessárias para paralisar determinadas atividades que violam e machucam o meio ambiente”.
O presidente da Associação dos Magistrados do Amazonas (Amazon) e conselheiro Fiscal da AMB, desembargador Aristóteles Thury, que participou da palestra A Contribuição das Câmaras Especializadas em Direito Ambiental, informou que Manaus é precursora na criação de uma vara especializada em Meio Ambiente e explanou os objetivos do Encontro de Direito Ambiental da AMB, que será realizado na capital amazonense, de 8 a 11 de agosto. “O encontro será realizado logo após a realização da Rio+20. Vai ser muito importante, pois personalidades ligadas ao meio ambiente estarão lá para nos ensinar e trazer novas soluções e conhecimentos baseados nos resultados da Conferência.”
Em resumo, a floresta amazônica é importante para a Humanidade, porque é peça fundamental no equilíbrio climático do planeta, razão pela qual não deve ser destruída. Mas de que viverão seus habitantes, 25 milhões de brasileiros, já que estão abandonados à própria sorte e não lhes resta senão vender a floresta? A solução, pois, no Programa Municípios Verdes, no Sistema Agroflorestal e na ação do governo federal, sobretudo em projetos como o Plano Amazônia Sustentável (PAS), que não passam do discurso e se eternizam no papel. O dinheiro que deve ser investido no desenvolvimento sustentável da Amazônia precisa ser garantido no Orçamento da União. Já o Fundo Amazônia, criado para financiar projetos sustentáveis na região, está empacado, pois nem o governo federal, nem a diretoria do BNDES, gestora do Fundo, compreenderam que, explorada de forma sustentável, a Amazônia representa o futuro do Brasil, e do planeta.

SÍNTESE DAS PROPOSTAS DA FRENTE PARLAMENTAR EM DEFESA DA AMAZÔNIA E DO SEU POVO
1 – Materialização do discurso em defesa da Amazônia no Orçamento Geral da União.
2 – Aplicação imediata do Fundo Amazônia.
3 – Dar início com urgência à execução do Plano Amazônia Sustentável (PAS).
4 – Investir maciçamente, e de forma nunca descontinuada, em ciência e tecnologia, na busca de alternativas econômicas, especialmente em biotecnologia.
5 – Universalização do Programa Municípios Verdes.
6 – Estímulo, financiamento e definição de programas voltados à expansão do Sistema Agroflorestal.
7 – Definição institucional de critérios para a remuneração de serviços ambientais e para que o mercado de carbono se torne realidade.
8 – Desmatamento zero como premissa essencial para a vida.

POVO E FLORESTA: AMAZÔNIA SUSTENTÁVEL – RUMO À RIO+20 - Compuseram a mesa do seminário Povo e Floresta: Amazônia Sustentável – Rumo à Rio+20, presidida pelo deputado Zenaldo Coutinho (PSDB/PA), os palestrantes:
Deputado Francisco Praciano, vice-presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Amazônia e do seu Povo
Senador Flexa Ribeiro (PSDB/PA)
Presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICM-Bio), Roberto Vizentin – Plano Amazônia Sustentável e o PAC/Rio+20
Presidente da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), César Bechara Nader Mattar Jr. – O Ministério Público e a Rio+20
Prefeito de Paragominas, Adnan Demachki – Programa Municípios Verdes
Presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Nelson Henrique Calandra – A Contribuição das Câmaras Especializadas em Direito Ambiental
Presidente da Associação dos Magistrados do Amazonas (Amazon) e conselheiro Fiscal da AMB, desembargador Aristóteles Thury – A Contribuição das Câmaras Especializadas em Direito Ambiental
Hidrólogo Henrique Chaves, da Universidade de Brasília (UnB) – Caminhos para a sustentabilidade na Amazônia
Economista e amazonólogo Juarez Baldoino da Costa – Biomas Brasileiros em Números
Gilberto Martins, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) – Repressão Criminal – Biopirataria na Amazônia
Coordenador geral da Rede Nossa São Paulo, Oded Grajew – Programa Cidades Sustentáveis
Diretor da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta), Ivan Hitoshi Saiki – O Sistema Agroflorestal
Pérsio Marco Antonio Davison, subsecretário de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE) – A Amazônia no Brasil 2022, 200 anos de Independência
Estiveram presentes ao seminário, além de representantes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, pesquisadores, estudantes e jornalistas que cobrem a chamada “questão amazônica”.


ZENALDO COUTINHO

Deputado federal pelo PSDB do Pará, presidente da Frente Parlamentar em Defesa
da Amazônia e do seu Povo, e do seminário Povo e Floresta: Amazônia Sustentável


FRANCISCO PRACIANO

Deputado federal pelo PT do Amazonas, vice-presidente da
Frente Parlamentar em Defesa da Amazônia e do seu Povo

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Governador tem meta de desmatamento zero no Pará


EMANUEL BOMFIM
e PAULINA CHAMORRO
Veja.com


RIO DE JANEIRO, 15 de junho de 2012 - Um caso raro de gestão pública no Brasil promete se estender para o segundo maior Estado do país, pelo menos no que diz respeito a iniciativas ambientais. A cidade de Paragominas, surgida às margens da rodovia Belém-Brasília, era conhecida como a capital do desmatamento. Em poucos anos e graças à boa vontade política, ela se transformou em "município verde" e, agora, modelo a ser implementado em todo o Pará.
Em anúncio feito durante um dos eventos paralelos à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, o governador Simão Jatene (PSDB) assumiu a meta de desmatamento zero no Estado a partir de 2020. A proposta supera a meta nacional de 80%, firmada no Programa de Municípios Verdes em 2011. "É absolutamente possível, mas não significa que seja simples", ponderou Jatene.
Um dos pilares para concretizar tamanho desafio, segundo ele, é melhorar a eficiência das atividades pecuárias, distribuídas por 18 milhões de hectares das terras paraenses. "É uma bobagem falar que o desmatamento líquido zero é se opor ao desenvolvimento e que irá travar a expansão da economia, ao contrário, é dar racionalidade à ela. É levar produtividade das áreas que já estão abertas", defendeu o mandatário.
O governo local também pretende ampliar o número de imóveis no cadastro ambiental. Hoje, 50 mil propriedades estão regularizadas. Até 2009 eram cerca de 400, apenas. Uma ação no Ministério Público na época obrigou os frigoríficos a exigir os cadastros das fazendas. O salto foi imediato. Até 2014, a expectativa é ter 150 mil imóveis.
Em meio ao impasse que vive a finalização do texto a ser debatido pelos chefes de Estado na Rio+20, a promessa surge como uma das mais ambiciosas até agora, ainda mais por ser uma iniciativa estadual. "Eu sempre digo que eu não quero ser o motor da história, só não quero ir a reboque dela. Eu quero ir junto. Eu me sinto apenas como mais um homem que nasceu e se criou na Amazônia e que tenho, por toda experiência de vida, como ousar assumindo coisas desse tipo."

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Amazônia sustentável rumo à Rio+20



BRASÍLIA, 31 de maio de 2012 - “A Amazônia não é almoxarifado e não precisa de esmola. Precisa ser remunerada pelo que se tira de lá, e também que projetos como o Plano Amazônia Sustentável (PAS), que envolve 21 ministérios, saiam do papel. Dinheiro há. O Fundo Amazônia, criado em 2009 para financiar projetos sustentáveis na região e administrado pelo BNDES (Banco nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) conta com US$ 1 bilhão, e o BNDES só gastou US$ 89 milhões. O que está acontecendo?” – afirmou o deputado federal Zenaldo Coutinho (PSDB/PA), presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Amazônia e do seu Povo, que realizou, dia 30, no Auditório Antônio Carlos Magalhães, do Interlegis, o seminário Povo e Floresta: Amazônia Sustentável – Rumo à Rio+20.
Na Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio+20, que a Organização das Nações Unidas (ONU) realizará no Rio de Janeiro, de 13 a 22 de junho, Zenaldo Coutinho apresentará o Grito da Amazônia, um documento gerado no seminário, enfocando a importância da Amazônia (maior floresta tropical e bacia hidrográfica do mundo) para o planeta, seu problema crucial (a destruição da floresta) e a solução (Programa Municípios Verdes e Sistema Agroflorestal). Também deixará claro para o governo brasileiro que sem o dinheiro do Fundo Amazônia e sem investimentos em projetos estratégicos para a região, “o que significa dizer investir no amazônida”, não haverá desenvolvimento sustentável, e o Trópico Úmido continuará sendo apenas o almoxarifado de onde o governo federal retira energia elétrica e commodities para exportação, como ferro, vendido sem valor agregado e praticamente sem royalties.
“Vejo a necessidade de o governo dar mais atenção à Amazônia” – disse o deputado federal Francisco Praciano (PT/AM), vice-presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Amazônia e do seu Povo e presidente da Frente de Combate à Corrupção, e que também participará do Grito da Amazônia na Rio+20. “Falta visão estratégica para a Amazônia. As hidrelétricas são estratégicas, mas não há projetos específicos para a Amazônia, como, por exemplo, pesquisa em biotecnologia.”
Francisco Praciano informou que 42% dos amazônidas estão em estado de pobreza e 16% em estado de extrema pobreza (IBGE/2009). “A Amazônia é uma região de cidadãos de terceira categoria. Pobreza não se coaduna com sustentabilidade; com fome ninguém pensa em Rio+20. Estamos destruindo o que os outros cobiçam.” E fez uma advertência: “A Amazônia tem muito a oferecer à Humanidade, por isso é necessário pensar o amazônida como cidadão de primeira categoria”.
O presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICM-Bio), Roberto Vizentin, que representou no seminário a ministra do Meio Ambiente, Isabela Teixeira, disse que o Plano Amazônia Sustentável gerou o dignóstico de que o modelo de ocupação da Amazônia Legal foi negativo do ponto de vista da sustentabilidade, até porque “há muitas Amazônias”, disse, referindo-se à complexidade continental da Hileia. Entre as soluções, Vizentin destacou o ordenamento da ocupação fundiária; infraestrutura e logística de transportes; e fomento de atividades sustentáveis. “Precisamos de ciência e tecnologia na Amazônia” – disse, observando que a região é um “almoxarifado”, utilizado como área extrativista. “A melhor estratégia de conservação da Amazônia é o uso sustentável dela.”
PROGRAMA MUNICÍPIOS VERDES E SISTEMA AGROFLORESTAL – O prefeito de Paragominas (PA), Adnan Demachki, apresentou um dos mais exitosos projetos em curso na Amazônia, o Programa Municípios Verdes, que teve início em 23 de março de 2011 e hoje está presente em 94 municípios paraenses e em alguns municípios de outros estados da Amazônia. A alma do programa foi o pacto social que governo paraense firmou com o governo federal, administrações municipais, Ministério Público, empresários, produtores e outras instituições representativas de setores produtivos, para promover o desenvolvimento econômico paraense ao mesmo tempo em que busca atingir a meta de desmatamento zero.
O Programa Municípios Verdes firma-se em um tripé: adotar o Sistema Agroflorestal, agregar tecnologia à agropecuária e plantar árvores nativas, numa escala de 10 milhões por ano, recuperando áreas degradadas. “O grande segredo do projeto não foi marco regulatório, mas o pacto social” – disse Adnan Demachki.
Quanto ao Sistema Agroflorestal, é modelo para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. “É agricultura em andares, agricultura com silvicultura, que desenvolvemos há 38 anos” – explicou o diretor da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (PA), Ivan Hitosh Saiki. Por exemplo: planta-se numa mesma área mogno, açaizeiro, bananeira e cacaueiro. Além dos diversos vegetais conviverem harmonicamente entre si e com a floresta, geram safra o ano inteiro, de diferentes produtos. Para Zenaldo Coutinho, o Sistema Agroflorestal “é uma fábrica de florestas econômicas, repovoando áreas degradadas e gerando sustento o ano inteiro”.
MESA – Compuseram a mesa do seminário Povo e Floresta: Amazônia Sustentável – Rumo à Rio+20, presidida pelo deputado Zenaldo Coutinho, os palestrantes:
Deputado Francisco Praciano, vice-presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Amazônia e do seu Povo
Senador Flexa Ribeiro (PSDB/PA)
Presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICM-Bio), Roberto Vizentin – Plano Amazônia Sustentável e o PAC/Rio+20
Presidente da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), César Bechara Nader Mattar Jr. – O Ministério Público e a Rio+20
Prefeito de Paragominas, Adnan Demachki – Programa Municípios Verdes
Presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Nelson Henrique Calandra – A Contribuição das Câmaras Especializadas em Direito Ambiental
Desembargador Aristóteles Turim, do estado do Amazonas
Hidrólogo Henrique Chaves, da Universidade de Brasília (UnB) – Caminhos para a sustentabilidade na Amazônia
Economista e amazonólogo Juarez Baldoino da Costa – Biomas Brasileiros em Números
Gilberto Martins, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) – Repressão Criminal – Biopirataria na Amazônia
Coordenador geral da Rede Nossa São Paulo, Oded Grajew – Programa Cidades Sustentáveis
Diretor da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta), Ivan Hitoshi Saiki – O Sistema Agroflorestal
Subsecretário de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE) – A Amazônia no Brasil 2022, 200 anos de Independência
Estiveram presentes ao seminário, além de representantes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, pesquisadores, estudantes e jornalistas que cobrem a chamada “questão amazônica”.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Fracasso do Fundo Amazônia causa desconforto entre países doadores


REUTERS  - Um dos principais protagonistas no debate global na área ambiental, o Brasil tem frustrado a expectativa dos doadores do Fundo Amazônia, criado em 2008 para financiar iniciativas de proteção florestal no país com recursos provenientes de países desenvolvidos.

Desde 2009, o Fundo Amazônia, gerido pelo Banco do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), já recebeu cerca de R$ 830 milhões em doações, mas desembolsou apenas cerca de R$ 70 milhões até agora para financiar 23 projetos aprovados e contratados. Foram contratados, nesse mesmo período, R$ 260 milhões.
Esse desempenho abaixo da expectativa tem como consequência direta o enfraquecimento do discurso brasileiro nos fóruns multilaterais, já que o Brasil sempre defendeu que a preservação das riquezas naturais nos países em desenvolvimento deve ser financiada pelas nações ricas.
Além disso, o principal doador do Fundo, a Noruega, já se sente desconfortável com a situação. Uma fonte do governo norueguês disse à Reuters que já há questionamentos na imprensa daquele país e na sociedade sobre a aplicabilidade dos recursos doados ao Brasil.
A Noruega se comprometeu a doar US$ 1 bilhão para o Fundo Amazônia e até agora já assinou contratos com o BNDES no valor de US$ 418 milhões. Esses recursos estão disponíveis para o Fundo Amazônia e ficam depositados no Banco Central da Noruega.
O BNDES disse, por meio da assessoria, que desconhece essa avaliação negativa do governo da Noruega.
Qualquer projeto com foco na preservação ambiental pode captar junto ao BNDES, mas a burocracia imposta pelo banco nos últimos três anos tem tornado a aplicação desse dinheiro uma “epopeia”, como descreveu o diretor do Museu da Amazônia, Ênio Candotti.
O projeto de implantação do museu foi aprovado pelo BNDES e já recebeu R$ 2,4 milhões do Fundo depois de uma longa espera que durou um ano e meio aproximadamente. Um problema na legalização da propriedade que é usada pelo museu atrasou ainda mais o acesso aos recursos.
“É muito mais fácil conseguir crédito para gado ou soja, do que investir em óleo de copaíba, por exemplo. A floresta em pé tem que valer mais do que áreas sem floresta. Esse é o segredo”, afirmou Candotti.
Para os noruegueses, o Fundo está explorando poucas possibilidades de financiamento, já que não há restrições para que órgãos federais ou empresas privadas tenham acesso aos recursos.
Na avaliação da fonte do governo nórdico, que pediu para não ter seu nome revelado, apenas com projetos de Organizações Não Governamentais (ONGs) ou das secretarias de meio ambiente estaduais, os recursos doados não serão usados até 2015, como pretende o governo norueguês.
Além da Noruega, a Alemanha fez uma doação ao Fundo de US$ 27,2 milhões e a Petrobras doou US$ 4,2 milhões.
A principal preocupação da Noruega é que entre 2010 e 2011 o valor contratado pelo BNDES caiu para menos da metade, enquanto os valores doados pelo país subiram. Em 2010, o banco fechou oito contratos num montante de aproximadamente R$ 166,2 milhões. No ano passado, foram 11 contratos assinados, que somados não chegam nem a R$ 55 milhões.
Esse quadro tem desestimulado novas doações estrangeiras, segundo relato dessa fonte norueguesa. Outros países têm perguntado sobre a aplicação dos recursos e ouvido que está aquém da esperada.
O diretor do departamento da Política de Controle do Desmatamento, Mauro Pires, que responde pelo Fundo Amazônia no Ministério do Meio Ambiente, admitiu que o Fundo não está funcionando como se esperava.
“A gente queria que estivesse mais acelerado, com mais abrangência”, disse, acrescentando que o governo e o BNDES estão aprendendo com o processo e que esse Fundo é uma novidade e ainda precisa ser calibrado.
No final do ano passado, o Comitê Orientador do Fundo Amazônia (COFA) deliberou sobre mudanças para agilizar a liberação de recursos do Fundo e pediu prioridade aos projetos que estimulem arranjos produtivos sustentáveis na Amazônia Legal e propostas que facilitem regularização fundiária no país. “Estamos trabalhando para construir projetos que atinjam o coração do desmatamento”, argumentou Pires. O banco também reconheceu a necessidade de aperfeiçoar seus processos na gestão do Fundo.
“Embora tenhamos conseguido selecionar e apoiar diversos projetos de excelente qualidade, uma grande quantidade dos planos apresentados ao BNDES não se enquadrava nas políticas operacionais e nas exigências necessárias para que o banco pudesse apoiá-los”, afirmou a instituição por meio de nota.
A burocracia do BNDES para liberar os recursos do Fundo Amazônia também impacta negativamente na execução dos projetos, como revelou uma das coordenadoras da Nova Cartografia Social da Amazônia, Erika Nakazono.
Ela contou que o projeto foi apresentado em outubro 2009 e só foi aprovado em maio de 2011, depois de muitas reuniões entre os pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas e os técnicos do banco, que pediram inúmeras mudanças na proposta apresentada.
Erika disse que alguns pesquisadores abandonaram o projeto pela demora na aprovação, e que parte da proposta, que prevê mapear 27 comunidades tradicionais do Bioma Amazônia, não pôde ser realizada porque o BNDES impede repasses aos moradores.
“Com certeza essa burocracia é muito difícil. Teve um momento que questionamos tanto esforço”, lamentou.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Amazônia rumo à Rio+20

Ribeinhos em Barcarena, município do estado do Pará (Divulgação)


RAY CUNHA


BRASÍLIA, 23 de maio de 2012 – Único deputado da bancada do estado do Pará a Representar a Câmara na Rio+20, Zenaldo Coutinho (PSDB) levará para a Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – da Organização das Nações Unidas (ONU), que acontecerá de 13 a 22 de junho, no Rio de Janeiro – uma questão que vem inquietando os governadores da região: o Fundo Amazônia, criado em 2009, para financiar projetos sustentáveis na Hileia, com dinheiro de países desenvolvidos, oriundo, até agora, principalmente da Noruega. O governo norueguês se comprometeu a doar US$ 1 bilhão e já assinou contratos com o BNDES no valor de US$ 418 milhões, disponíveis no Banco Central da Noruega. A Alemanha doou ao fundo US$ 27,2 milhões. A Petrobras doou US$ 4,2 milhões.

No total, o Fundo Amazônia já recebeu em torno de R$ 830 milhões em doações, mas desembolsou apenas cerca de R$ 70 milhões, até agora, para financiar 23 projetos aprovados e contratados. Foram contratados, nesse mesmo período, R$ 260 milhões.

“Já conversei com vários interlocutores de outros países e é geral o sentimento de frustração em razão da inação do governo brasileiro. Apesar da disponibilidade financeira já alocada, o governo mostra incapacidade de implementar políticas de atendimento ao princípio da razão da existência do fundo: proteção da floresta e desenvolvimento da qualidade de vida dos povos da região. Ora, se nós não conseguimos aplicar ainda 30% do que foi destinado em 2009, como podemos tentar ampliar a captação de recursos com os antigos e novos parceiros se não conseguimos nem implementar essas políticas?” – adverte Zenaldo Coutinho. “Com um montante de recursos desses parados, caberia ao BNDES criar uma equipe técnica para orientar as prefeituras e os Estados que têm projetos. Jamais recusar os projetos por detalhes técnicos.”

O tema, fundamental para o desenvolvimento sustentável dos povos da Amazônia, será embasado pelo seminário Povo e Floresta: Amazônia Sustentável – Rumo à Rio+20, que a Frente Parlamentar em Defesa da Amazônia e do seu Povo – presidida por Zenaldo Coutinho – realiza, dia 30 de maio, uma quarta-feira, das 14 às 19h30, no Auditório Antônio Carlos Magalhães, do Interlegis, Anexo E do Senado Federal, na Via N-2, atrás do Ministério da Justiça. O seminário enfocará cinco temas básicos: Defesa do meio ambiente e qualidade de vida; Ciência, tecnologia e identificação de modelos sustentáveis e financiamento - Fundo Amazônia; PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) da Amazônia; Programa Amazônia Sustentável; e Programa Municípios Verdes. 

A Amazônia é a maior floresta tropical e bacia fluvial do planeta, com 7 milhões de quilômetros quadrados, dos quais 5,5 milhões cobertos pela mata (60% no Brasil). Representa mais da metade das florestas tropicais, a maior biodiversidade e 16% da água dos rios do globo. Para que esse tesouro não seja destruído, é necessário, em primeiro lugar, que os povos que moram na Amazônia contem com condições socioeconômicas, para se tornarem prósperos e, assim, preservarem o meio onde vivem. Nesse contexto, há vários e importantes projetos prontos para serem implementados, mas o dinheiro retido no BNDES faz falta.

MUNICÍPIOS VERDES E SISTEMA AGROFLORESTAL – O governador do Pará, Simão Jatene (PSDB), apresentará no seminário a visão dos governadores da região, baseada basicamente em dois modelos, um deles já implementado no Pará. No dia 23 de março de 2011, o governo paraense começou a mudar o quadro de devastação no estado dando início ao modelo econômico sustentável Programa Municípios Verdes. Foi firmado um pacto entre o governo do estado, o governo federal, administrações municipais, Ministério Público, empresários, produtores e outras instituições representativas de setores produtivos, para promover o desenvolvimento econômico paraense ao mesmo tempo em que busca atingir a meta de desmatamento zero.

“A expansão da agropecuária e da atividade madeireira ilegal e predatória, motrizes de desenvolvimento no estado do Pará – considerada uma das regiões com a maior biodiversidade do planeta -, impulsionou nas últimas décadas um desmatamento intenso. A articulação das principais diretrizes de governo, voltadas para a redução do desmatamento e a degradação ambiental, às peculiaridades dos problemas de cada município, torna-se necessária para a promoção da melhoria da governança pública municipal com foco no desenvolvimento econômico e social através do uso sustentável e conservação dos recursos naturais. Este programa propõe promover uma economia de baixo carbono e alto valor agregado, melhorar a governança pública municipal e reduzir desmatamento e degradação” – diz o site Municípios Verdes.

O outro modelo é o agrofloestal. Segundo a Wikipédia, “Agrofloresta ou Sistema Agroflorestal é um sistema que reúne as culturas agrícolas com as culturas florestais, resultante da prática de estudo de agrossilvicultura, plantações de florestas para suprir as necessidades do homem. Usa a dinâmica de sucessão de espécies da flora nativa para trazer as espécies que agregam benefícios para o terreno, assim como produtos para o agricultor. A agrofloresta recupera antigas técnicas de povos tradicionais de várias partes do mundo, unindo a elas o conhecimento científico acumulado sobre a ecofisiologia das espécies vegetais e sua interação com a fauna nativa”. Para Zenaldo Coutinho o Sistema Agroflorestal “é uma fábrica de florestas econômicas, repovoando áreas degradadas e gerando sustento o ano inteiro”.

“Sistema Agroflorestal é a agricultura voltada para a preservação ambiental” – define o diretor da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta), Ivan Hitoshi Siaki, um dos palestrantes do seminário Povo e Floresta: Amazônia Sustentável – Rumo à Rio+20. A Camta, no município de Tomé-Açu, no Pará, é um dos empreendimentos sustentáveis de maior sucesso na Amazônia.

PLANO AMAZÔNIA SUSTENTÁVEL – O economista e amazonólogo Juarez Baldoino da Costa, um dos palestrantes do seminário, abordará a questão do Plano Amazônia Sustentável (PAS), coordenado pelo Núcleo de Assuntos Estratégicos do governo federal, envolvendo 21 ministérios, 8 secretarias especiais, 9 governos estaduais e a Casa Civil da presidência da República, mas que ainda não saiu do papel. O pesquisador analisará três macro-regiões: ao sul da Amazônia, na área denominada Povoamento Adensado ou Arco do Desmatamento; a segunda, a nordeste da região, no entorno da Terra do Meio, no Pará, com pressão humana menor que no Arco do Desmatamento; e a terceira, na parte ocidental, desde o Alto Rio Negro, a região mais preservada da Amazônia.

Nesse contexto, ele abordará também a questão do Fundo Amazônia Sustentável. “Criado em 2009, prevê recursos de países doadores e outras entidades com a finalidade de reduzir o desmatamento e a degradação de florestas, além da utilização sustentável dos recursos do bioma. Os acordos com a Noruega atingem 2,5 milhões de coroas norueguesas a serem aportados, e que devem ser utilizados até 2015 pelo Brasil, exclusivamente na diminuição da emissão de gases oriundos do desmatamento, mesma diretriz do acordo com a Alemanha. Os desembolsos até agora para projetos aprovados totalizaram US$ 44 milhões” – contabiliza o pesquisador.

METAS DO MILÊNIO NA PAN-AMAZÔNIA – Cofundador e pesquisador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Adalberto Veríssimo, engenheiro agrônomo pós-graduado em ecologia pela Universidade Estadual da Pensilvânia, EUA, apresentará no seminário Povo e Floresta: Amazônia Sustentável – Rumo à Rio+20, estatísticas dos 9 países amazônicos no contexto do Projeto do Milênio, proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2002, como plano de ação para reverter, até 2015, o quadro de pobreza, fome e doenças que afetam bilhões de pessoas.

O estudo feito na Amazônia Internacional mostra que nos 9 países que a compõe a porção amazônica desses países é sempre a mais pobre. Assim, a meta, até 2015, na Amazônia, é reduzir pobreza e mortalidade infantil, melhorar as condições de saúde materna e investir em educação, proteção ambiental e saneamento básico.

O Fundo Amazônia pode ser um começo.

RIO+20/BNDES retém mais de meio bilhão de reais do Fundo Amazônia. Por quê?


RAY CUNHA


BRASÍLIA, 17 de maio de 2012 – Em matéria publicada dia 13, em O Liberal, “Inércia ataca Fundo para a Amazônia”, o correspondente do jornal belenense em Brasília, Thiago Vilarins, registra: “O Fundo Amazônia, gerido pelo Banco do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), já recebeu cerca de R$ 830 milhões em doações, mas desembolsou apenas cerca de R$ 70 milhões até agora para financiar 23 projetos aprovados e contratados; foram contratados, nesse mesmo período, R$ 260 milhões”. Enquanto isso, a floresta continua sendo torada, destruição inclusive filmada por satélite. E a dinheirama, dada principalmente pela Noruega, é um mistério. Onde está entocado esse dinheiro? Por que o BNDES não o utiliza para minimizar a miséria na Amazônia?

O Fundo Amazônia foi criado em 2008 para financiar projetos sustentáveis na Hileia, com dinheiro de países desenvolvidos, principalmente da Noruega. O governo norueguês se comprometeu a doar US$ 1 bilhão para o Fundo Amazônia e já assinou contratos com o BNDES no valor de US$ 418 milhões, disponíveis no Banco Central da Noruega. A Alemanha doou ao fundo US$ 27,2 milhões. A Petrobras doou US$ 4,2 milhões. Os brasileiros podem até não querer saber se o dinheiro da Petrobras é ou não bem utilizado, mas segundo matéria veiculada pela agência de notícias Reuters, a imprensa da Noruega quer saber se o dinheiro norueguês está sendo realmente aplicado na Amazônia. Não está.
“Já conversei com vários interlocutores de outros países e é geral o sentimento de frustração em razão da inação do governo brasileiro. Apesar da disponibilidade financeira já alocada, o governo mostra incapacidade de implementar políticas de atendimento ao princípio da razão da existência do fundo: proteção da floresta e desenvolvimento da qualidade de vida dos povos da região. Ora, se nós não conseguimos aplicar ainda 30% do que foi destinado em 2009, como podemos tentar ampliar a captação de recursos com os antigos e novos parceiros se não conseguimos nem implementar essas políticas?” – disse a O Liberal o presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Amazônia e do seu Povo, deputado federal Zenaldo Coutinho, do PSDB do Pará. “Com um montante de recursos desses parados, caberia ao BNDES criar uma equipe técnica para orientar as prefeituras e os Estados que têm projetos. Jamais recusar os projetos por detalhes técnicos” – adverte.
RIO+20 – Zenaldo Coutinho tem missão importante para a Amazônia na Rio+20, que é mostrar que há dinheiro suficiente para implementar programas sustentáveis em toda a Amazônia e sustar a destruição do que os amazônidas tem de mais precioso: a floresta. Ora, se há dinheiro e capacidade técnica e tecnológica para a implementação desses programas, qual é o problema? E o Plano Amazônia Sustentável (PAS), do governo federal, que sequer saiu do papel? Do mesmo modo, o Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago do Marajó, de 2007, que envolve 13 ministérios, também não saiu do papel. Por quê? Parece claro que se os amazônidas não se mexerem, utilizando os foros certos para denunciar o descaso do próprio governo brasileiro para com a Amazônia, não há dúvida, a maior floresta tropical do planeta virará savana.

Assim, a Frente Parlamentar em Defesa da Amazônia, da qual Zenaldo Coutinho é presidente, realiza o seminário Povo e Floresta: Amazônia Sustentável, dia 30, das 14 às 19h30, no auditório Antônio Carlos Magalhães, do Interlegis, anexo do Senado Federal, quando serão debatidos temas cruciais para o desenvolvimento sustentável das populações que vivem na Hileia, como o projeto Municípios Verdes, de desmatamento zero, que o governo do Pará implementa desde o ano passado; a implementação do Plano Amazônia Sustentável; e o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) da Amazônia, empacado. Zenaldo Coutinho levará o documento gerado pelo seminário para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que acontecerá de 13 a 22 de junho, no Rio de Janeiro.
Também participará, dia 18 de junho, do debate Cidades Sustentáveis, dentro da Rio+20, que culminará com o lançamento oficial da iniciativa Sou um Transformador Urbano (I’m a City Changer), movimento global de sensibilização sobre as ações positivas que tiveram impactos na vida das pessoas em áreas urbanas. Dias 17 e 19 de junho, Zenaldo Coutinho participará ainda da Cúpula Parlamentar Mundial de Legisladores, da Organização Global de Legisladores para um Meio Ambiente Equilibrado (Globe International), com o objetivo de conduzir os compromissos internacionais de sustentabilidade para a legislação nacional.
MUNICÍPIOS VERDES E SISTEMA AGROFLORESTAL – O governador do Pará, Simão Jatene (PSDB), apresentará, no Seminário Povo e Floresta: Amazônia Sustentável, a visão dos governadores da região, baseada basicamente em dois modelos, um deles já implementado no Pará. No dia 23 de março de 2011, o governo paraense começou a mudar o quadro de devastação do estado, dando início ao modelo econômico sustentável Programa Municípios Verdes. Foi firmado um pacto entre governo do estado, o governo federal, administrações municipais, Ministério Público, empresários, produtores e outras instituições representativas de setores produtivos para promover o desenvolvimento econômico paraense ao mesmo tempo em que busca atingir a meta de desmatamento zero.
“A expansão da agropecuária e da atividade madeireira ilegal e predatória, motrizes de desenvolvimento no estado do Pará – considerada uma das regiões com a maior biodiversidade do planeta -, impulsionou nas últimas décadas um desmatamento intenso. A articulação das principais diretrizes de governo, voltadas para a redução do desmatamento e a degradação ambiental, às peculiaridades dos problemas de cada município, torna-se necessária para a promoção da melhoria da governança pública municipal com foco no desenvolvimento econômico e social através do uso sustentável e conservação dos recursos naturais. Este programa propõe promover uma economia de baixo carbono e alto valor agregado, melhorar a governança pública municipal e reduzir desmatamento e degradação” – compromete-se o governo paraense no site Municípios Verdes.
O outro modelo é o agrofloestal. Segundo a Wikipédia, “Agrofloresta ou Sistema Agroflorestal é um sistema que reúne as culturas agrícolas com as culturas florestais, resultante da prática de estudo de agrossilvicultura, plantações de florestas para suprir as necessidades do homem. Usa a dinâmica de sucessão de espécies da flora nativa para trazer as espécies que agregam benefícios para o terreno, assim como produtos para o agricultor. A agrofloresta recupera antigas técnicas de povos tradicionais de várias partes do mundo, unindo a elas o conhecimento científico acumulado sobre a ecofisiologia das espécies vegetais e sua interação com a fauna nativa”.
Zenaldo Coutinho vê a Agrofloresta como uma “fábrica de florestas econômicas”, para repovoar as áreas degradadas da Hileia e gerar sustento o ano inteiro para as populações, por meio da agropecuária e silvicultura. Este, por exemplo, é um excelente projeto para ser financiado, e fiscalizado, pelo Fundo Amazônia. Só falta o BNDES cumprir sua missão.