Poema

 

A FLORESTA



Zenaldo Coutinho  


Flutuando nas águas do Rio Rei a nossa história
turvas ruas insinuam as curvas da floresta.
Entre Mururés as Vitórias-Régias invadindo os igarapés
beijam as canoas e os remos no bordado das marés.

Exuberante a vida entre folhas os amores
dos animais em cópula no ciclo das águas: as flores.
É mais que tudo do ser real em lendas
abrindo fendas no paraíso descortinado.

Revoada de aves de todas as cores
fascinam como um Renoir vivo e inquieto
transmudando suas tintas e desenhos
em mil formas na mesma moldura natural.

Onças silenciosas caminham em sua fome,
antas corpulentas passeiam no rio,
macacos gritam  do alto da liberdade
das árvores  gigantes seculares.

As boiúnas amedrontam a inocência dos que creem
entre visagens  que povoam o imaginário.
As caboclas e as índias são seduzidas
por botos mutantes que saem dos rios
e por feitiço deixam filhos sem pai.

Porém todos os seres que são vistos pelos olhos
ou pelos sonhos do povo da floresta
coabitam na poética da vida renovada
alimentando as próprias razões da natureza.

Mas a urbe ruge e expande seu corpo de concreto
sobre a selva frágil que morre nos lixões e chaminés.
Nada resiste às labaredas da insensatez
do homem voraz anunciando a morte
na especulação das terras da floresta
que de repente são um campo sombrio.

Em meio às cinzas como a desafiar o monstro
surge um passarinho assustado
que logo voa sem olhar para traz.
É o sopro da vida que mantém em nós a esperança.


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