quarta-feira, 20 de junho de 2012

Amazônia grita na Rio+20

Parlamentares apresentam na conferência das nações unidas documento com as demandas da região


THIAGO VILARINS
Enviado especial das Organizações
Romulo Maiorana à Rio+20


BELÉM, 20 de junho de 2012 - Autoridades da Organização das Nações Unidas (ONU) e participantes da Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio+20, receberam nos últimos dois dias o documento Grito da Amazônia, um documento com as demandas da região, gerado no Congresso Nacional no fim do mês de maio, no seminário Povo e Floresta: Amazônia Sustentável - Rumo à Rio+20. O documento, todo em papel reciclável, foi entregue pelos deputados Zenaldo Coutinho (PSDB-PA) e Francisco Praciano (PT-AM), presidente e vice-presidente, respectivamente, da Frente Parlamentar em Defesa da Amazônia e do seu Povo.

O documento enfoca a importância da Amazônia (maior floresta tropical e bacia hidrográfica do mundo) para o planeta, seu problema crucial (a destruição da floresta) e a solução (Programa Municípios Verdes e Sistema Agroflorestal). E também deixa claro para o governo brasileiro que sem o dinheiro do Fundo Amazônia e sem investimentos em projetos estratégicos para a região, "o que significa dizer investir no amazônida", não haverá desenvolvimento sustentável, e o Trópico Úmido continuará sendo apenas o almoxarifado de onde o governo federal retira energia elétrica e commodities para exportação, como ferro, vendido sem valor agregado e praticamente sem royalties.

"A Amazônia não é almoxarifado e não precisa de esmola. Precisa ser remunerada pelo que se tira de lá, e também que projetos como o Plano Amazônia Sustentável (PAS), que envolve 21 ministérios, saiam do papel. Dinheiro há. O Fundo Amazônia, criado em 2009 para financiar projetos sustentáveis na região e administrado pelo BNDES (Banco nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) conta com US$ 1 bilhão, e o BNDES só gastou US$ 89 milhões. O que está acontecendo?", questionou o deputado Zenaldo, ao explicar o teor do Grito da Amazônia.

Para o deputado Praciano, que também é presidente da Frente de Combate à Corrupção, o Grito da Amazônia revela a necessidade de o governo dar mais atenção à Amazônia. "Falta visão estratégica para a Amazônia. As hidrelétricas são estratégicas, mas não há projetos específicos para a Amazônia, como, por exemplo, pesquisa em biotecnologia", explicou. Segundo ele, 42% dos amazônidas estão em estado de pobreza e 16% em estado de extrema pobreza. "A Amazônia é uma região de cidadãos de terceira categoria. Pobreza não se coaduna com sustentabilidade; com fome ninguém pensa em Rio+20. Estamos destruindo o que os outros cobiçam."

São oito as propostas principais da frente parlamentar apresentadas no documento: materialização do discurso em defesa da Amazônia no Orçamento Geral da União; aplicação imediata do Fundo Amazônia; dar início com urgência à execução do Plano Amazônia Sustentável (PAS); investir maciçamente, e de forma nunca descontinuada, em ciência e tecnologia, na busca de alternativas econômicas, especialmente em biotecnologia; universalização do Programa Municípios Verdes; estímulo, financiamento e definição de programas voltados à expansão do Sistema Agroflorestal; definição institucional de critérios para a remuneração de serviços ambientais e para que o mercado de carbono se torne realidade; e desmatamento zero como premissa essencial para a vida.

MUNICÍPIOS VERDES FIRMA TRÊS PARCERIAS - O Programa Municípios Verdes firmou ontem mais três novos acordos no Fórum Amazônia Sustentável realizado na Rio+20. As novas parcerias, anunciadas no Teatro Maria Clara Machado (Planetário da Gávea), são do Programa Rede Cidades Sustentáveis, o Banco da Amazônia e a Bolsa Verde do Rio de Janeiro. De acordo com o secretário extraordinário do Programa Municípios Verdes, Justiniano Netto, as novas parcerias baseiam-se na importância de permear novos caminhos para o desenvolvimento sustentável no Estado.

"A parceria é um dos pilares do programa, pois, esse tem um protagonismo coletivo, da sociedade como um todo. Ele envolve produtores rurais, ONGs, iniciativas privadas, bancos, governos, meios acadêmicos, entre outros. Todas são importantes. Ao todo fechamos seis durante a Rio+20 e temos outras para assinar até o fim do ano no Estado do Pará", destacou Justiniano, lembrando que, na semana passada foi assinado acordo com o Banco do Brasil e, ontem, com a mineradora Hydro, que vai acompanhar a capacitação de noventa técnicos em geoprocessamento. A sexta parceria será fechada hoje com a Regions 20, fundada pelo ex-governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger.

UNIVERSITÁRIOS PARAENSES ENCENAM BANQUETE ANTROPOFÁGICO - Cabeças, pernas e braços de índios servidos ao molho pardo ou em saladas. Com este banquete antropofágico, os estudantes universitários indígenas e não indígenas de diversas faculdades de Belém, que compõem o Juventude Universitária pelas Causas Indígenas (Juci), protestaram ontem em frente às escadarias da Câmara Municipal na Cinelândia. Segundo organizadores da encenação, o protesto foi em razão deles estarem cansados de assistir passivamente ao assédio que lideranças indígenas vêm sofrendo no Pará para assinar contratos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (Redd).

"A intenção é questionar. Cada vez mais percebemos que o indígena, o nosso povo, está cada vez mais distante das negociações, dos projetos que são importantes a nossa participação. Então, nós estamos nos qualificando para ver se a gente consegue ter esse contato, de igual para igual, diante de grandes empresas. A dúvida do indígena e dos estudantes é de quem vai ser esse carbono? Eles vão pagar para nós os indígenas, uma vez que são essas as terras mais cobiçadas internacionalmente? Por que o Redd não é debatido de igual para igual com a sociedade toda? Será que não é mais um nome para vender a Amazônia? Então, já que eles querem a Amazônia, nós entendemos que a floresta é o prato principal e nós, os indígenas, seremos uma pequena sobremesa", explicou Eliene Rodrigues, 34, indígena da etnia Baré, e estudante de Biomedicina da Universidade Federal do Pará (UFPA).

A teatralização mobilizou todos que passavam na tarde de ontem pela Cinelândia, o centro nervoso da capital carioca. Os estudantes paraenses apareceram encapuzados vestindo ternos e gravatas devorando o interior da cabeça de índios (de madeira). A ideia fazia alusão à forma como estão tentando implantar o mercado de Redd no Pará. Inspirado nesta temática, a performance utilizou, ainda, uma bandeira do Pará estilizada como toalha de mesa e pedaços cenográficos de corpo de índio misturados a comida e servidos em bandejas de prata que representavam o que o Redd está causando entre os índios do país.

REVISTA DISCUTE MEIO AMBIENTE POR MEIO DE MÚSICA E LITERATURA - Foi lançado ontem durante a Rio+20 a décima quarta edição da "Revista PZZ - Arte, Comunicação e Cultura", com o tema Amazônia: Estradas da última fronteira". O periódico discute, nessa nova versão, os aspectos paisagísticos, geopolíticos e socioculturais da Floresta Amazônica, evidenciados por um ponto de vista crítico. A revista traz ao leitor uma análise das transformações sofridas pela floresta, levando em conta a evolução histórica do Brasil. O ensaio autoral de Paulo Santos fugiu a tradição de museus e galerias ao debater a floresta, mas retrata a Amazônia de forma distinta, tentando inovar nas discussões acerca de temas políticos, sociais e culturais de uma região, que segundo os editores da revista, é formada por contrastes e está inserida em um ambiente complexo e globalizado.

Para o editor responsável e diretor da revista, Carlos Pará, o periódico tem, entre seus objetivos principais, as missões de provocar o debate entre os integrantes da sociedade civil e promover os temas da revista. "Nós levamos essas discussões para além da nossa redação, convocando estudantes em universidades e integrantes da sociedade civil a participar de assuntos que são de suma importância para a Região Norte e para o Brasil", completou. Os assuntos discutidos na revista, segundo Carlos, são apresentados por meio de expressões culturais, como a música e a literatura.

Já para a fonte principal desse número, o fotojornalista Paulo Santos, a revista tem o papel de aproximar os nortistas de pautas extremamente importantes para a sua região. Segundo ele, essas informações não são divulgadas com intensidade ou frequência pela mídia. "Boa parte dos meios de comunicação não absorve temas essenciais relacionados à floresta para retransmiti-los à população, nós vamos na contramão, com outro objetivo. Nós estamos tentando levar o contexto da floresta para o nortista e para o brasileiro", explicou.

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